Máquina e Imaginário - Arlindo Machado

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Por Marlon Nunes

O texto “Máquina e Imaginário” do autor Arlindo Machado começa a discussão sobre arte e tecnologia exemplificando três maneiras de se fazer arte com o advento da tecnologia, seja com caráter apologético ou a integração: Estéticas Informacionais, a Vídeo-arte e a Surveillance. Três exemplos de arte em relação à tecnologia que não se resumem ao mesmo denominador. Para o autor não nos importa saber se esses processos ainda podem ser considerados artísticos ou não, mas que os conceitos tradicionais através da criação dessas novas obras e sua implantação na vida social devem ser discutidos. Para isso, o autor afirma que é necessário uma crítica não dogmática que esteja atenta a dialética da desconstrução e da construção de grandes transformações.

O autor salienta que os gregos, por exemplo, não faziam nenhuma distinção entre arte e técnica, até pelo menos o Renascimento, quando filósofos como Francis Bacon e seus contemporâneos vão adotar o conceito de “artes-mecânicas” como modelo da cultura nascente. Sendo assim, “a figura do inventor se sobrepõe a do sábio e a máquina torna-se modelo conceitual para explicar e representar o universo físico natural” (pag. 25).

Segundo o autor a nossa época também passa por um momento de discussão de problemas técnicos e científicos. Exposições demonstram que se faz cada vez mais difícil fazer uma diferenciação entre a imaginação artística, a investigação científica e a invenção técnica e industrial. “Hoje os grandes centros de pesquisa estética estão localizados dentro de institutos de pesquisa tecnológica e científica” (pág. 25).

Segundo o autor alguns pensadores como Lewis Munford consideram que a arte e a técnica são opostas, pois a arte corresponde à subjetividade do homem enquanto a técnica é mecânica e objetiva, logo máquina e arte se opõem.

A discussão passa agora pela questão da contradição entre a arte e a indústria, pois sabemos que os artistas expõem sua arte de forma subjetiva, a arte é sim, uma forma de expressar sentimentos, mas a indústria se apropria dessa condição e de certa forma subsidia os artistas. Esse processo significa que o artista está sendo absorvido pela indústria cultural? Se pensarmos que em todas as épocas os artistas sempre foram incentivados por alguma maneira de mecenato, não. Mas se considerarmos que a enorme reprodutibilidade desse tipo de arte-industrial, sim. Como vivemos numa sociedade avançada industrial e tecnologicamente, é claro que de alguma forma os aparelhos tecnológicos irão fazer parte do universo artístico. Daí talvez o paradoxo, porque ao mesmo tempo que os artistas criam novos métodos composicionais, as empresas financiam grandes eventos internacionais dedicados ao tema da exploração artística dos novos meios. Então o autor questiona até onde o artista contribui para legitimar a sociedade industrial avançada e a partir de onde ele a desconstrói?

Encaminhando a continuidade dessa discussão, Arlindo Machado cita a Sky art. A Sky art, caracteriza-se basicamente por projeções de raios laser, bombardeamento de nuvens com pó químico para torná-las iridescentes e coloridas, lanças aos céus balões de gás hélio, criar arco-íris artificiais, sinais eletromagnéticos etc. Os artistas da Sky art encontram muitas dificuldades devido os seus projetos terem custos elevados, mão-de-obra especializada e longas pesquisas, sem os render os resultados práticos que a tecnocracia espera. Mas essa mesma tecnocracia que muitas vezes é indiferente ao trabalho dos artistas, não pode ignorar esse tipo de arte pois precisa se legitimar socialmente e apropriar-se das descobertas estéticas.

Temos assim três discursos sobre a tecnologia: o apologético, pregado por engenheiros, industriais e a mídia. O das elites intelectuais, acomodados em universidades, museus e imprensa escrita. E no meio os artistas que podem servir como fonte iluminadora trazendo problemas e possibilidades reais.

O VELADO FASCISMO ESTATAL

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Que o Estado não está a serviço da população uma grande maioria já sabe. Que geralmente as demandas do povo não são atendidas uma parte concorda. Agora que o Estado é opressor até as últimas conseqüências, talvez muitos saibam e continuam suas vidas cotidianamente infelizes, pois quando questionam sofrem o risco de serem recebidos pela repressão policial.
O Estado utiliza da força ideológica para se beneficiar da opinião pública. Constantemente assistimos propagandas televisivas, enaltecendo os estados da Federação e as suas capitais, como sendo ótimos para se viver (em Minas Gerais não é diferente). Por debaixo do domínio (seja ele ideológico ou físico) estão as verdadeiras condições de vida de um povo trabalhador que sofre hodiernamente com as imposições de um governo mentiroso e sagaz. Há anos vem-se discutindo questões emergenciais em Minas e na Capital. Aos poucos a verdade está vindo à tona. Aparentemente, nossos representantes nunca escutaram aquela expressão: “mentira tem perna curta”.
Melhorias no trânsito, na educação e na segurança são propagandeados constantemente, mas o que vemos na realidade não é o mesmo das propagandas. O governo de Minas não está preservando a vida de sua população e prefere se preparar para a Copa do Mundo de 2014 ou construir obras faraônicas como o Novo Centro Administrativo e a chamada Linha Verde (que de verde não tem nada) e deveria se chamar Linha Cinza, tanto pela cor do asfalto e do concreto, quanto pelo vergonhoso e falso discurso pregado pelo governo mineiro. Se o Estado tem dinheiro para revitalizar o Mineirão e construir um império da governança mineira, porque não melhorar as condições de vida da população?
A educação e a saúde, mais uma vez, são relegadas ao segundo plano e não adianta aqui prezar pelo outro discurso pregado pelo Governo, o da segurança pública - o principal foco deste texto - pois, como dito antes, a polícia serve quase que sempre apenas aos interesses do Estado e dos verdadeiros criminosos, os de colarinho branco.
Quando a ideologia não é suficiente para aliviar ou amedrontar, a violência entra em ação. Há alguns dias policiais da ROTAM - Rondas Ostensivas Táticas Metropolitanas -, a “Tropa de Elite” mineira, adentraram o aglomerado da Serra em BH e simplesmente mataram duas pessoas que muito provavelmente eram inocentes (como já acontecera outras vezes). Os heróis contemporâneos elegidos pela mídia para que o povo se sinta aliviado do terror, expressam com suas ações uma extrema banalização da violência, pois para combater o crime organizado somente com mortes, assassinatos e bastante pancada.
Nossos Capitães Nascimento, estão preparados para enfiar a porrada no crime organizado e nos usuários de entorpecentes como se eles fossem desaparecer de uma hora para outra de nossas cidades. Quando o Rio de Janeiro serviu de palco para as ações violentas do Estado, vários traficantes foram expulsos e executados, mas os grandes chefes continuam à solta e muitos deles “culiados” com o próprio Estado e os três poderes que o constituem.
O maior problema dessa situação é o perigo que correm as vidas de milhares de famílias que se vêem acuadas pelas medidas paliativas do Estado e logo se vêem, novamente em meio a tiroteios e balas perdidas. A irresponsabilidade do Estado sacrifica a vida de inocentes, mas a individualidade ideologicamente pregada há séculos não nos deixa enxergar que mais sangue está sendo derramado sem que se tomem medidas realmente eficazes contra o problema da criminalização e marginalização da sociedade.
Em BH, os policiais passaram de heróis a vilões e foram recebidos à pedradas e pauladas no dia seguinte, pelo povo que não fazia nada demais, a não ser reivindicar o porque da morte dos seus amigos e familiares. Quando as sujeiras saem debaixo do tapete o Estado ainda tenta escondê-las novamente. Neste caso, os superiores tiveram o descaramento de dizer que os supostos meliantes estavam utilizando fardas das polícias civil e militar. O que chama a atenção é que as fardas estavam limpas e sem marcas de tiros.
Dentro de toda a discussão, estamos nós, a mercê de um Estado falido, corrupto e mentiroso. O que fazer então? Continuarmos de braços cruzados assistindo ao espetáculo? A função do povo é cobrar, analisar e lutar por dias melhores. Lutar para sair das imposições do Estado, pois este utiliza de todos os artefatos possíveis para enganar a população através de falácias como esta: “estamos tomando providência”; frase que mais escutamos dos nossos ditos representantes, mas as soluções nunca chegam a níveis no mínimo satisfatórios.
O conceito de Herói: “uma figura que reúne em si os atributos necessários para superar de forma excepcional um determinado problema”, parece não servir-nos. Pois nossos heróis causam vários outros problemas. Nossos capitães, sargentos, soldados..., na verdade são fantoches manipulados pelo Estado e também vítimas da irresponsabilidade dos parlamentares.
Não estamos ainda afirmando nada aqui, mas o filme “Tropa de Elite” pode ter sido muito bem forjado para que medidas como às colocadas em linhas anteriores continuem existindo. Ou seja, conquista-se a confiança do povo pela ficção e depois entram em ação. Tanto porque além de ser um fenômeno de bilheteria e de vendas, o filme foi pirateado muito antes de ser lançado. Se analisarmos que a maioria da população dos morros consome artigos pirateados, quem nos garante que a fraude não possa ter sido criada pelos próprios interesses comerciais e estatais?
É preciso pensar a influência da Indústria Cultural - conceito usado por Theodor Adorno e Max Horkheimer na obra “Dialética do Esclarecimento” - em nossas vidas. É preciso verificar que, por exemplo, a linguagem corrente no filme “Tropa de Elite” permeia todo o nosso agir. Os jovens seguem sarcasticamente as várias expressões e frases ditas pelos personagens do filme, principalmente o Herói principal, Capitão Nascimento. A identificação com a ficção é clara em muitos aspectos. Todos têm agora na ponta da língua termos como: “fanfarrão, xerife, senhor, pica (órgão sexual masculino), aspira (aspirante)” e tantas outras. E no duo formado pelo Estado e o Poder Paralelo, a população se perde e não sabe mais em quem confiar ou a quem recorrer, pois a banda podre da polícia e os traficantes servem de produto ideológico para a formação de uma sociedade cada vez mais violenta, individualizada e sem sentido, niilista.
De resto, fica mais que provado que a ficção produz a realidade e não o contrário. Jean Baudrillard em seu livro Simulacros e Simulação, afirma que vivemos na época da hiper-realidade e descreve a Disneylândia como o modelo perfeito de todos os simulacros. Já a obra cinematográfica “A Cidade dos Sonhos” de David Lynch demonstra a enorme artificialidade do California Dreams; conseqüentemente, e mais ainda, de Hollywood. A exemplo de Baudrillard e Lynch visualizamos hoje uma imensa gama de simulacros: reality shows, telenovelas, espetáculos esportivos, telejornais dramalhões etc. Estamos fetichizados (enfeitiçados) pela “Sociedade do Espetáculo” estudada por Guy Debord e pela cibernética profetizada por Martin Heidegger.
Estamos literalmente dominados pelos interesses fascistas do Mass media, pelo poder megalomaníaco do Estado e das transnacionais. Todos estes últimos saem lucrando e quem sempre continua pagando as contas é o povo que sofre calado e trancado em suas casas. Quem dera pudéssemos mesmo colocar todos estes problemas na “conta do Papa” (como diria nosso mais novo Herói Nascimento) ou dos “Pastores”, assim dividiríamos as mazelas com as religiões-empresas que, atrasadamente, ainda pensam o mundo metafísico das ideias platônicas e o cogito ergo sum – “penso, logo existo” calculista de René Descartes - e esquecem do mundo do presente, do ser-no-mundo que nos pertence e que poeticamente podemos habitar.