UM EXEMPLO DE HIPER-REALIDADE APLICADO À SOCIEDADE: o filme Tropa de Elite e a ocupação das favelas no Rio de Janeiro

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Texto apresentado e publicado no II CIDS - Congresso Internacional de Dialetologia e Sociolinguística - Belém do Pará em setembro de 2012.   

Marlon Nunes Silva 

RESUMO: Discutiremos a relação entre a sequência cinematográfica Tropa de Elite e a consequente ocupação dos aglomerados no Rio de Janeiro. Nossa contextualização terá como direcionamento a análise fenomenológica de Baudrillard sobre o filme Apocalipse Now, de Francis Ford Coppola, que trata da Guerra do Vietnã e demonstra como o cinema pode servir de plataforma ideológica em nome do suposto progresso. O Estado instala a guerra, que já não é mais somente física, mas midiatizada, hiper-realizada. O objetivo do artigo não é fazer uma exclusiva análise dos filmes, mas discutir os conceitos de hiper-realidade e simulação.

PALAVRAS-CHAVE: Hiper-realidade. Cinema. Tropa de Elite.

ABSTRACT: In this paper, we are going to discuss the relationship between the motion picture Tropa de Elite and the consequent occupation of the “favelas” of Rio de Janeiro. Our background statement will be led by the Baudrillard’s phenomenological analisys on the movie Apoclipse Now, directed by Francis Ford Coppola. The movie is about Vietnam War and shows how the cinema can be used as ideological platform in the name of the so-called progress. The Nation begins the war, wich is not only physical but also mediatic and hyperrealized. The purpose of this article is not only to do an analysis of the movies themselves, but to discuss the concepts of hyperreality and simulation.


KEY WORDS: Hyperreality. Cinema. Tropa de Elite.

1 INTRODUÇÃO

A primeira invasão ao Complexo do Alemão foi realizada em 28 de novembro de 2010 e a primeira sequência do filme “Tropa de Elite” lançada em 5 de outubro de 2007. O cerco aos traficantes estava preparado e constituído de vários homens e armamentos:

Desde sábado as forças policiais e Exército mantinham cerco ao Complexo do Alemão. Forças policiais e o Exército iniciaram na manhã deste domingo, por volta das 8h, a invasão ao Complexo do Alemão, onde estão centenas de traficantes. No total, são 800 soldados da Brigada de Infantaria Paraquedista do Exército, 300 agentes da Polícia Federal (PF) e 1,3 mil homens das polícias Militar e Civil mobilizados na para operação no Rio de Janeiro. Blindados do Exército e da Marinha e veículos do Batalhão de Operações Especiais da PM (BOPE) são utilizados na operação. A Polícia Militar estima que entre 500 e 600 traficantes estejam no Complexo do Alemão. Desde o sábado mais de 2 mil homens das forças de segurança já estavam prontos para invadir o complexo de favelas e mantinham um cerco posicionados nos 44 acessos do complexo. Na manhã deste domingo, uma hora antes do início da invasão, ocorreram tiroteios intensos na região e os homens estavam posicionados aguardando apenas a chegada dos helicópteros para iniciar as operações. (JORNAL ESTADÃO, 2012)

Ao mesmo tempo, o armamento midiático estava também preparado para mais uma batalha hiper-espetacular do que já estava pré-ordenado. A Disneylândia e Hollywood sobem os morros cariocas. As balas agora não são de festim, ferem não só quem está no fogo cruzado, mas também os cérebros parados em frente aos tele-jornais dramalhões. Helicópteros, carros, “motolinks”, câmeras de última geração. Tudo à disposição do desencobrimento-encobrimento. Tudo a favor da simulação:

Quando o real já não é o que era, a nostalgia assume todo o seu sentido. Sobrevalorização dos mitos de origem e dos signos de realidade. Sobrevalorização de verdade, de objectividade e de autenticidade de segundo plano. Escalada do verdadeiro, do vivido, ressurreição do figurativo onde o objecto e a substância desapareceram. Produção desenfreada de real e de referencial, paralela e superior ao desenfreamento da produção material: assim surge a simulação na fase que nos interessa – uma estratégia de real, de neo-real, e de hiperreal, que faz por todo o lado a dobragem de uma estratégia de dissuasão. (BAUDRILLARD, 1991, p. 14)
    
A segunda sequência do filme foi lançada em 8 de outubro de 2010. O tema agora, além da luta contra o tráfico de drogas era também a disputa entre milícias formadas por policiais. E em 13 de novembro de 2010, mais um aglomerado foi invadido pelo aparato policial, a Rocinha. O que esses acontecimentos têm de provável ligação com a compilação cinematográfica “Tropa de Elite”? O limite entre o real e a imaginação, a Hiper-realidade .   

Segundo Baudrillard (1991), a Hiper-realidade é uma realidade construída e divulgada pelos meios de comunicação sem nenhuma piedade dos que inocentemente acreditam nas belas imagens produzidas e reproduzidas e ainda nas intermináveis hiper-propagandas. O objeto do artigo então é essa relação hiper-real. O sentido já não faz sentido ou apenas o sentido produtivista. O real e o irreal misturam-se. O sentido foi implodido. É aí que a memória apaga-se juntamente com o real e sobra apenas o irreal, o hiper-real. Sobram os pixels, os light-emitting diode, sobra a magia dos códigos binários.

O real é produzido a partir de células miniaturizadas, de matrizes e de memórias, de modelos de comando – e pode ser reproduzido um número indefinido de vezes a partir daí. Já não tem de ser racional, pois já não se compara com nenhuma instância, ideal ou negativa. É apenas operacional. Na verdade, já não é o real, pois já não está envolto em nenhum imaginário. É um hiperreal, produto de síntese irradiando modelos combinatórios num hiperespaço sem atmosfera. (BAUDRILLARD, 1991, p. 8)

Somos diferentes, temos nossas subjetividades, mas em cada uma delas antes agem os códigos binários das telas e cada um ao seu modo rende-se ao fascínio criado pela “Tela Total” (BAUDRILLARD, 2005).

Anulação da paisagem, desertificação do território, abolição das distinções reais. O que até agora se limita ao físico e ao geográfico, no caso de nossas auto-estradas, tomará toda a sua dimensão no campo eletrônico com a abolição das distâncias mentais e a compressão absoluta do tempo. Os curtos-circuitos (e a instauração desse cyberespaço planetário equivale a um imenso curto-circuito) geram eletro-choques. O que entrevemos não é mais somente o deserto do trabalho, o deserto do corpo que a informação engendrará em razão de sua própria concentração. (BAUDRILLARD, 2012)

Nosso ponto de vista sobre a hiper-realidade é que a criação de imagens retira do objeto todas as suas dimensões: o peso, o relevo, o cheiro, a profundidade, o tempo e, principalmente, o sentido. O fetiche da imagem digital reside na desincorporação, tornando a imagem pura objetividade. O auge da simulação consiste então em restabelecer todas as dimensões suprimidas com o intuito de tornar a imagem mais real que a realidade: “ela não tem relação com qualquer realidade: ela é o seu próprio simulacro puro” (Baudrillard, 1991, p. 13). Sobre a perda da aura das obras de arte na era da sua reprodutibilidade técnica, Benjamim observa que:

Na época de Homero, a Humanidade oferecia-se em espetáculo aos deuses olímpicos. Agora, ela se transforma em espetáculo para si mesma. Sua auto-alienação atingiu o ponto que lhe permite viver sua própria destruição como uni prazer estético de primeira ordem. Eis a estetização da política, como a prática do fascismo. (BENJAMIM, 2012)

Benjamim (2012) salienta ainda que todos os esforços para estetizar a política convergem para um ponto: a guerra. Pois ela permite dar um objetivo aos grandes movimentos de massa, preservando as relações de produção existentes. O professor Verlaine Freitas (2012), citando Baudrillard (1995) escreve que: “Estamos aqui, no coração da Amazônia...”: onde fica esse lugar? Como também o da guerra, da tempestade, da pobreza... Na verdade ele não existe, pois tão somente figura o lócus da substância vicejante do real, consumido através de uma rede imaginária cuidadosamente articulada em torno da percepção de algo mais real do que a própria realidade.

2 A GUERRA FAZ-SE FILME E O FILME FAZ-SE GUERRA

Seguindo o exemplo das análises de Baudrillard (1991) no seu texto sobre a película “Apocalypse Now”, de Francis Ford Coppola, faremos a nossa sobre os filmes “Tropa de Elite”. 

[...] a Guerra do Vietname, em si mesma, talvez de facto nunca tenha existido, é um sonho, um sonho barroco de napalm e de trópico, um sonho psicotrópico onde não estava em causa uma vitória ou uma política, mas a ostentação sacrificial, destemida, de uma potência filmando-se já a si própria no seu desenvolvimento, não esperando talvez nada mais que a consagração de um superfilme, que remata o efeito de espetáculo de massas desta guerra. (BAUDRIILARD, 1991, p. 78)   

A questão da existência da Guerra do Vietnã colocada por Baudrillard, nada mais é que uma grande ironia. Ela existiu, tanto quanto os combates entre o Estado e o Poder Paralelo ou o Estado e o Estado ocorrem nos morros cariocas. O que ele quis dizer é que os filmes servem como etapas dessas guerras, simulam as invasões e demonstram através das câmeras o desenvolvimento dos países, demonstram a produção de mais do mesmo, ou seja, do produtivismo expansionista contemporâneo. Os filmes estruturam sentimentos, ideias, memórias, comportamentos. Criam condições necessárias para que existam as outras etapas. São por si só a exposição da violência produtivista. 

A guerra travada no conteúdo de “Tropa de Elite” não é diferente. Vivemos o fascismo da imagem, a simulação. O filme serve como desconstrução e construção, simulacro dos acontecimentos. Simulação das futuras ações. Em Platão (2004, p.228) a imagem do mundo externo à caverna era possível. Nossas cavernas tornaram-se telas desde o surgimento dos cinescópios. Não há diferença entre o sensível e o inteligível. Não há distinção entre real e falso. Vivemos o hiper-espetacular. O professor Juremir Machado da Silva (2012) em seu texto “Depois do espetáculo”, analisando as teses de Guy Debord (2012), escreve que: 

O espetáculo era um dispositivo de controle por meio da sedução. No hiper-espetáculo, quando tudo se torna tela, cristal líquido e captação de imagem, todo controle é remoto. Passamos da manipulação, estágio primitivo da dominação das mentes, e da “servidão voluntária”, degrau superior da manipulação, à imersão total. Evoluímos da participação, que pressupunha um sujeito e uma idéia de política, para a interatividade, que reclama um jogador desinteressado.  (MACHADO, 2012)

Somos então sugados pelas telas, estamos integrados aos sistemas desenvolvimentistas, ao produtivismo exacerbado. Tudo em nome do crescimento, pois o Brasil é a sexta maior economia do mundo (JORNAL NACIONAL, 2011) e assim como afirmado por Baudrillard (1991) em relação aos Estados Unidos durante as décadas de 60 e 70, uma potência filmando-se a si própria no seu desenvolvimento (BAUDRILLARD, 1991). 

Os mitos do bem-estar e das necessidades possuem uma poderosa função ideológica de reabsorção e supressão das determinações objectivas, sociais e históricas, da desigualdade. Todo o jogo político do Welfare State e da sociedade de consumo consiste em ultrapassar as próprias contradições, intensificando o volume dos bens [...]. [...] tudo isso nada significa, uma vez que pôr o problema em níveis de igualização consumo já é substituir a busca dos objectos e dos signos [...] pelos verdadeiros problemas [...]. (BAUDRILLARD, 1995, p. 48 e 49)

Tudo em nome da simulação. No momento do lançamento do “Tropa de Elite” não interessava somente o lucro das grandes produtoras de cinema, mas a difusão do conteúdo, da linguagem. E assim foi feito. Sua linguagem tornou-se corriqueira. Os jovens seguiram sarcasticamente as várias expressões e frases ditas pelos personagens do filme, principalmente o suposto herói, Capitão Nascimento. A identificação com a ficção é clara em muitos aspectos. Era fácil escutar alguém com as expressões na ponta da língua: “fanfarrão, xerife, senhor, ‘pica’ (órgão sexual masculino), aspira (aspirante)” e tantas outras utilizadas nos “Tropa de Elite”. Em “A Sociedade de Consumo”, Baudrillard afirma que o consumo é “um campo social estruturado em que os bens e as próprias necessidades, como também os diversos indícios de cultura, transitam de um grupo modelo e de uma elite directora para as outras categorias sociais” (BAUDRILLARD, 1995, p. 61).   

Nossos Capitães Nascimento estão preparados para enfiar a “porrada” no crime organizado e nos usuários de entorpecentes como se fossem desaparecer de uma hora para outra de nossas cidades. Vários traficantes foram expulsos e executados, mas os grandes chefes continuam à solta (muito provavelmente aliados com os próprios poderes estatais). 

O filme “Tropa de Elite” parece ter sido muito bem forjado para que as medidas de ocupação fossem estabelecidas. Ou seja, conquista-se a confiança das massas, estudam o campo de atuação pela ficção, agem psicologicamente e depois colocam em prática as suas medidas paliativas. Além de serem fenômenos de bilheteria e de vendas, outro aspecto que nos chama a atenção é que as sequências foram pirateadas muito antes de serem lançadas:

O secretário-executivo do Ministério da Justiça, Luiz Paulo Barreto, que preside o Conselho Nacional de Combate à Pirataria e Delitos contra a Propriedade Intelectual, afirma que a pirataria de que foi alvo o filme brasileiro "Tropa de Elite" contém "um ineditismo" e "preocupa" o governo. O aspecto inédito que o secretário aponta é a antecedência da venda de cópias ilegais em relação à estréia do filme. (FOLHA.COM, 2011).

Ainda segundo o secretário-executivo do Ministério da Justiça: "Não temos registro de algo assim no Brasil e digo que é raro no mundo. Vemos casos em que a pirataria entra simultaneamente à estréia nos cinemas ou dois ou três dias antes dela" (FOLHA.COM, 2011). Quem nos garante que a fraude não possa ter sido criada em prol do interesse comercial-estatal? Teríamos assim, com a pirataria, um maior acesso ao conteúdo? Tornamo-nos mais interativos às invasões? Nos dizeres de Orwell (2011) na obra “1984”:

A obediência não basta. A menos que sofra, como podes ter certeza que ele obedece a tua vontade e não a dele? O poder reside em infligir dor e humilhação. O poder está em se despedaçar os cérebros humanos e tornar a juntá-los da forma que se estender. Começas a distinguir que tipo de mundo estamos criando? É exatamente o contrário das estúpidas utopias hedonísticas que os antigos reformadores imaginavam. Um mundo de medo, traição e tormento, um mundo de pisar e ser pisado, um mundo que se tornará cada vez mais impiedoso, à medida que se refina. O progresso em nosso mundo será o progresso no sentido de maior dor. (ORWELL, 2011)

A violência já descrita por George Orwell em 1948, data de quando escreveu a obra 1984, está hoje institucionalizada pelas mídias e Baudrillard (1991, p. 95) em seu texto “O efeito Beaubourg” descreve que é uma violência ininteligível porque todo o nosso imaginário está centrado na lógica dos sistemas em expansão.

3 CONCLUSÃO

No duo formado pelo Estado e o Poder Paralelo, a população se perde e não sabe mais em quem confiar ou a quem recorrer. A banda podre da polícia (as milícias) e os traficantes servem de produto ideológico para a formação de uma sociedade cada vez mais violenta, individualizada e sem sentido: niilista, hiper-real, onde as instituições demonstram-se corrompidas.   Durante entrevista cedida ao programa “Roda Viva” da “TV Cultura”, o sociólogo Luiz Eduardo Soares, ex-secretário de Segurança Pública nacional e do Rio de Janeiro e um dos três autores dos livros “Elite da Tropa 1 e 2” que deram origem aos filmes, salientou que: 

[...] Qual o problema, entretanto? É o triunfalismo. É a forma pela qual se começa a divulgar a ideia de que: 1) vencemos o crime. Vencemos quem cara-pálida? [...] Enfatizando triunfalmente que nós voltamos ao complexo do Alemão, nós estamos deixando de lado a questão chave para o Rio de Janeiro que é fonte inclusive para a prosperidade do tráfico, que é fonte inclusive para perda da soberania nacional em certas áreas. Qual é essa fonte? O crime organizado centrado, radicado nas instituições policiais que são tão importantes para o estado democrático de direito, isso é gravíssimo. [...] Vivemos uma situação patética.  (RADAR CULTURA, 2010)

O ex-secretário ainda explica que: 

Como cresceram as bocas de fumo, como cresceu o tráfico no Rio de Janeiro? Quando nós contamos no exterior o que é uma boca de fumo, as pessoas ficam perplexas e perguntam: ‘- mas como, há uma loja, um local fixo, sedentário de venda varejista de drogas ilícitas? - Sim, exatamente. - Então se os clientes sabem, a polícia sabe? – Sim, exatamente. - Mas como isso pode manter-se e se reproduzir ao longo de décadas? – Porque esses segmentos policiais são sócios do empreendimento criminal’. Como que as armas chegam? Fala-se das fronteiras. Muito mais importante, muito mais factível, é controlar a corrupção dentro da polícia, porque a polícia, segmentos policiais fazem o tráfico. [...] A negociação impera no Rio de Janeiro. Quando a política se vincula ao crime, quando passa ser interessante para as forças políticas. Por exemplo: as milícias controlam os currais eleitorais. [...] Até as eleições passadas nós víamos na TV candidatos a cargos executivos abraçados com milicianos.    (RADAR CULTURA, 2010)     

Jean Baudrillard (1991) em seu livro “Simulacros e Simulação”, afirma que vivemos na época da hiper-realidade e descreve a Disneylândia como o modelo perfeito de todos os simulacros: “É antes de mais um jogo de ilusões e de fantasmas” (BAUDRILLARD, 1991, p. 20). Já a obra cinematográfica “A Cidade dos Sonhos”, de David Lynch (citada por Baudrillard como um exemplo para o que ele escreveu em “Simulacros e Simulação”) demonstra a enorme artificialidade do California Dreams; consequentemente, e mais ainda, da indústria Hollywoodiana. A exemplo da Disneylândia e da “Cidade dos Sonhos”, o “Tropa de Elite” demonstra que não há mais uma diferenciação entre realidade e ficção, não é nem verdadeiro nem falso, é uma máquina de dissuasão. A representação (Vorstellung), mímeses, serve agora como simulação. Luis Costa Lima em análise do texto de Heidegger “O que significa pensar” afirma que: “o domínio da representação ou de sua forma mais corrente impõe a cegueira quanto ao que significa pensar” (LIMA, 2000, p. 84). 

A publicidade (1991, p. 118), depois de ter veiculado durante muito tempo um ultimato implícito de tipo econômico: compro, consumo, gozo, repete hoje sob todas as formas: voto, participo, estou presente, isto diz-me respeito – espelho de uma zombaria paradoxal, da indiferença de todo o significado público. Por mais que os autores dos livros “Elite da Tropa” desejassem supostamente demonstrar a realidade do Rio de Janeiro, mais uma vez, o conteúdo foi transformado em hiperespetáculo cinematográfico. Apenas mais um dos instrumentos da “democracia radical” (BAUDRILLARD, 2012).  

Estamos dominados pelos interesses fascistas do Mass media, pelo poder megalomaníaco do Estado e das transnacionais, informacionais ou não. Além disso, quem nos dera a oportunidade de colocarmos todos esses problemas na “conta do Papa” (como diria nosso mais novo Herói Nascimento) ou dos “Pastores”, ou dos “Rabinos”, mas: “[...] é perigoso desmascarar as imagens, já que elas dissimulam que não há nada por detrás delas” (BAUDRILLARD, 1991, p. 12). A ocupação começou pela exibição desregrada dos planos, das imagens. Iniciou-se pelos simulacros e pela simulação. Transformou-se em hiperespetáculo.

REFERÊNCIAS

BAUDRILLARD, Jean. A Sociedade de Consumo. Rio de Janeiro: Elfos Ed.; Lisboa: Edições 70, 1995.

______. Big Brother: Telemorfose e criação de poeira. Disponível em: . Acesso em: 13 de janeiro de 2012.

______. Simulacros e simulação. Lisboa: Relógio D'Água, 1991.

______. Tela Total: mitos- ironias da era do virtual e da imagem. 4. ed. Porto Alegre: Sulina, 2005. Disponível em: . Acesso em 04 de janeiro de 2012.

BENJAMIN, Walter. A obra de arte na era da sua reprodutibilidade técnica. Disponível em: . Acesso em: 05 de janeiro de 2012.

BRAGA, Eduardo Cardoso. Ser ou Não-Ser: A Simulação e as Vicissitudes da Imagem Digital. Disponível em: . Acesso em 03 de janiero de 2012.

DEBOR, Guy. Sociedade do Espetáculo. Disponível em: . Acesso em: 05 de janeiro de 2012.

FOLHA.COM. Pirataria do filme "Tropa de Elite" preocupa governo. Disponível em: . Acesso em: 09 de janeiro de 2011.

FREITAS, Verlaine. A opacidade do real. Disponível em: . Acesso em: 20 de janeiro de 2012.  

JORNAL ESTADÃO. Polícia e Exército iniciam invasão no Complexo do Alemão. Acesso em: 4 de janeiro de 2012. Disponível em:

JORNAL NACIONAL. Brasil já é a sexta maior economia do mundo, segundo consultoria britânica. Disponível em: . Acesso em: 09 de janeiro de 2011.

JORNAL DO SENADO. Aumento do consumo de drogas. Disponível em: . Acesso em: 09 de janeiro de 2012.

LIMA, Luiz Costa. Mímeses: desafio ao pensamento. Rio de Janeiro; Civilização Brasileira, 2000.

ORWELL, George. 1984. Disponível em: . Acesso em: 08 de janeiro de 2011.

PLATÃO. A República. Trad. Enrico Corvisieri. São Paulo: Nova Cultural, 2004.

RADAR CULTURA. Roda Viva – Luiz Eduardo Soares: Bloco 1. YouTube, 30 de novembro de 2010. Disponível em: . Acesso em: 11 de janeiro de 2012.  

SILVA, Juremir Machado. Depois do espetáculo (reflexões sobre a tese 4 de Guy Debord) Disponível em: . Acesso em: 17 de janeiro de 2012.