Terra de Destino

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Saído da minha Terra de origem, enfim cheguei ao meu destino. Ao chegar deparei-me com uma certa estranheza, pois, o lugar onde eu vivia era assolado pelos maus espíritos, e dessa forma era quase impossível ter boas noites de sono. Já a Terra de destino parecia ser bem mais agradável: com um aroma de relva molhada e flores do campo rupestre. Assim, me sentira um pouco mais aliviado por estar longe dos ímpios e injustos.
Talvez os Deuses tenham me direcionado para esta Terra com algum objetivo, mas ainda, com o pouco tempo de estadia nesse novo mundo, era impossível saber se esse sentimento se tornaria verídico ou apenas era uma falsa impressão de meus instintos.
Esse mundo era bem mais calmo: com cavalos alados e brancos, carruagens vermelhas e rios de águas límpidas. Não que o meu mundo não tivesse isso também, mas aqui as coisas são abundantes e os maus espíritos não se aproximaram ainda desses bosques.
Os seres eram mais calados e concentrados; pareciam estar sempre meditando sobre algo; talvez por terem as almas bem mais desenvolvidas que no meu mundo se comportavam assim. Apesar de poucas palavras e alguns sorrisos, demonstravam enorme gratidão por viverem entre a natureza pura como no início em que os Deuses a formaram.
Sentia um enorme equilíbrio mental e corpóreo ao me aproximar das águas dos vales que eram em abundância. Pareciam águas santas! Fiquei-me perguntando: o que diria o Deus das águas filho de Urano e de Gaia diante de tanta beleza?
Existiam nas partes mais altas flores de todas as cores, mas as que predominavam eram as de tonalidade vermelha ou próximas disso. Fiquei sabendo depois de alguns dias que as flores em tons de vermelho representavam o Amor que resplandecia naquele local. Não que alguém tenha as plantado, mas elas estavam ali naturalmente. O próprio amor existente no local as fazia florescer.
Tudo parecia, num primeiro momento, uma grande mentira. Sempre lia nos livros do meu mundo que existia a promessa de um paraíso para quem seguisse as determinações da razão e não acreditava que poderia encontrar com tanta rapidez, tal lugar. Mas o engraçado era que tal lugar não era aquele prometido pelo reino da razão e das idéias, mas estava ali, e eu ainda estava vivo. Sentia o meu corpo, as vontades eram as mesmas, as necessidades também. Sempre imaginei que no paraíso os Seres seriam apenas em alma e não teriam os sentimentos físicos normais.
Ali não era assim, como o descrito nos livros do meu mundo, todos se comportavam como seres normais, ou seja, faziam e realizavam os mesmos atos naturais do meu mundo, mas com o diferencial de respeitarem uns aos outros. Quero dizer que possuíam corpos físicos e comiam e bebiam como no outro mundo.
Quando cheguei nesse descrito lugar pensei até que eu estivesse morto, mas devagar fui me restabelecendo que ainda estava no planeta Terra. Portanto um tom de reminiscência tomou conta de minha psique.
Lembrava de momentos vividos antes e de atos libidinosos causados a mim pelos maus espíritos do meu mundo. Escárnios e orgias afrodisíacas que havia feito me sucumbiam à alma quase que por todos os momentos. Calafrios tomavam conta de meus órgãos internos e a pele suava frio devido às ansiedades provocadas por Pandemos. Vivia cercado por golfinhos, cisnes, e pés de romã e limeira (símbolos afrodisíacos). Eu praticava assim, prostituição religiosa nos templos da Deusa maior, para que ela me aceitasse. Mas ao contrário, como Príapo, eu me tornava cada vez mais mau visto aos olhos dos outros habitantes.

Continua...

Marlon Nunes

O Canto Mágico de Tara

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Nas estradas o asfalto derrete
O Céu azul anuncia a aventura
A menina da charrete
Chega e destrói a estrutura

Entre as árvores retorcidas
Esconde-se espreitada
Mas uma vez aparecida
Demonstra-se amordaçada

Traz para o jantar a Mônada
E mais sete princípios
Deseja a vida imaginada

O raio do absoluto nos fere
Vejo-me perdido por entre a floresta
Sorrindo ela nos enobrece

O seu canto a de nos buscar

Marlon Nunes

Sagrada

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Amar me faz leve
Só penso em deitar ao seu lado
Para que você me guarde
E vejo-me tanto mais em ti grudado

Seu cheiro enobrece o meu sonho
A todo momento desejo o seu toque
Despedida de manhã, à tarde reencontro

A duras penas passam-se as horas
O relógio controla o tempo
Ao revê-la tudo melhora
Até o verde das gramíneas do campo

E do Monte Parnaso, consagra
De onde a observo, musa
Nossa História se torna sagrada

Marlon Nunes

Trezentos e sessenta e cinco dias

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Passou-se um ano
Passaram-se as horas
Viveram momentos
E continuaram andando

Na direção do amar
Cada segundo é especial
Complacência e solidariedade
Palavras trocadas ao entardecer

Os filhos pobres e miseráveis
Divina lealdade, um dragão alado
Encontram-se as melhores almas
Consomem-nos as labaredas

Dentro dos hospitais continuam as músicas
Salvando-nos das mazelas familiares
Não há fatos, mas interpretações
O quarto bagunçado, as roupas jogadas



Devido o cansaço do trabalho
Abaixo do sol do verão
O papelão esticado no chão
A mente estressada pela educação

A Hybris do Cáucaso, o excesso
Pois, não há aqui conformação
O fogo de Prometeu
Altas taxas de marginalização

Eles encontram-se nos condomínios
Um exército de pílulas
Restaurantes sofisticados
A coletividade sem um grão

Neuroses domésticas trocadas
No furor da paixão
O voto de pobreza
Zombado pelo espírito pequeno capitalizado

O que diria cristo disso?
Uma central de abastecimento
Os alimentos não comercializados
Corpos degradados misturam-se ao resto apodrecido



Carros carregados por assassinos sujos de sangue
Misturam-se aos inocentes
Escorpiões por entre as tábuas
A vontade presa nas cores de Almodóvar

As paredes pichadas pela necessidade de expressar
Com toda a opressão
Enxergamos nossas necessidades
Ensaiamos a cegueira

Como Sara e os magos da Idade Média
As trombetas soam sutilmente
Anunciando a chegada da paz
Ainda que você morra, viverá

O desafio de Deus nos trouxe
Um ao outro, agora, numa só verdade
Pensamos juntos, discutimos juntos
O discurso e o amor

Deitaremos na areia dos mares
E ditaremos a força das ondas
A direção dos Alísios...

Marlon Nunes

SUJEITO DE DIREITO E IDENTIDADE NO AMBIENTE VIRTUAL: QUESTÕES PARA A LÓGICA E PARA A ONTOLOGIA JURÍDICAS

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Maria Francisca Carneiro, inicia sua discussão sobre direito e identidade no ambiente virtual comentando sobre a questão da intimidade e identidade do sujeito, pautando-se na personalidade e na dignidade humanas.
A autora explica que: mesmo que a intimidade tenha sido calcada em bases filosóficas burguesas, ela foi regulamentada a partir da Constituição Portuguesa de 1976, relacionando a intimidade à identidade pessoal e à capacidade civil. Coloca ainda que é difícil estabelecer os limites de onde começa a vida pública e termina a vida privada, ainda mais quando se está em discussão o ambiente virtual, no qual ocorre o Ciberdireito.
O ambiente virtual caracteriza-se digamos, por uma relativa balburdia quando falamos de sujeito ou sujeitos, pois vários sujeitos ocupam vários espaços ou nenhum espaço. Passamos então a falar sobre um sujeito de direitos virtual. Estamos diante de possibilidades de reinterpretação do conceito de sujeito de direitos e alógica pode nos oferecer novas constatações.
Após essas reflexões, a autora passa a refletir sobre o que seria o direito virtual e o direito real. “Ao mesmo tempo que se consolida a tutela jurídica da intimidade, a internet devassa-a”. O principal problema a ser discutido pelo Ciberdireito é a questão da identidade (nome) no ambiente virtual. Como saber o nome de quem freqüenta a internet e como resguardar o nome do sujeito quando preciso. O nome é um direito, mas também um dever, pois o anonimato é proibido. Já os pseudônimos são legalmente admissíveis quando condicionados às possibilidades de identificação do autor.
Enfim, segundo Carneiro, poderíamos pensar o cibersujeito no contexto de uma possível democracia virtual. E citando Montesquieu, distingue liberdade filosófica e política; “a democracia virtual, para ser democracia deve prevalecer os interesses sociais sobre os individuais”. O cibersujeito continua sendo um e ele mesmo, o que acontece é a ampliação do conceito de sujeito e da sua identidade.
A autora explica que o paradigma da identidade (subjetividade) está no inconsciente do sujeito e sua via de acesso é a psicanálise. Citando Félix Guatarri, Carneiro conclui que cada indivíduo ou grupo social veicula seu próprio modelo de subjetividade. Finalizando, ela questiona o porque da não proximidade entre as novas lógicas e as novas ontologias?

Marlon Nunes

CONTEXTUALIZAÇÃO DA LÓGICA

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Para contextualizar a Lógica a autora Cláudia Maria Barbosa, passa pelos conceitos da Teoria da Ciência e seus aspectos epistemológicos: os limites do conhecimento; metodológicos: as técnicas de edificação de hipóteses; e lógicos: os procedimentos de inferência em ciência. Seguindo o raciocínio de Décio Krause e Newton Costa a autora descreve três categorias de ciência: ciências puras (verdade pela verdade) que subdividem-se em formais (lógica e matemática) e em reais: ciências naturais (física, química e biologia); ciências humanas: psicologia, sociologia e direito. Ciências aplicadas (finalidades práticas). E as tecnológicas (técnicas sistematizadas que auxiliam em determinadas tarefas).
A lógica, tanto quanto a ciência, possui caráter modificável. Servem então para o entendimento de alguns mecanismos de constituição do direito. Ainda é vista como uma disciplina que visa o estudo dos métodos e princípios usados para distinguir o raciocínio correto do incorreto; e também como a ciência das formas válidas de inferência (processo pelo qual se extrai a conclusão de uma ou mais premissas, raciocínios). A autora explica que a lógica surgiu como o estudo das formas válidas de inferência, mas hoje é muito mais que isso.
A partir daí, lembra que as bases da lógica são aristotélicas. O silogismo, por exemplo, é um tipo de argumento em que uma conclusão é inferida a partir de duas premissas. E exemplifica o modelo aristotélico com um modelo no qual as proposições que intervêm na teoria do raciocínio são proposições gerais ligadas por um verbo principal (cópula) “ser” ou o “não ser”.
Depois, Maria Barbosa passa pelos conceitos de cálculo proposicional e comenta que o esse termo significa o sistema para executar cálculos com proposições. A validade ou a invalidade de um argumento é determinada através de sua derivação ou prova. Um argumento é válido se todas as suas instâncias forem válidas, e invalido se pelo menos uma das instâncias for inválida.
O problema da validade de um argumento está depositado em duas faces combinatórias da linguagem: a sintática (gramatical) e a semântica (interpretação do argumento). O conceito central da semântica da lógica proposicional é o de valor-verdade.
E depois de demonstrar alguns exemplos de utilização dos operadores lógicos: e, ou, não, se, então e somente se, a autora parte para a análise da lógica dos predicados, na qual são inseridos dois novos operadores lógicos: o quantificador universal (qualquer que seja ou para todo) e o quantificador existencial (existe). “A regra geral nesse modelo é que para que um argumento que envolva quantificadores seja válido, deve ser impossível que suas premissas sejam verdadeiras e sua conclusão falsa, à condição que exista, pelo menos, um indivíduo”.
Após uma revisão descritiva e objetiva da história da lógica, a autora demonstra dois caminhos a serem seguidos no estudo da lógica: lógicas complementares da clássica e as lógicas divergentes ou heterodoxas. E termina seu texto, mais uma vez, descrevendo mais um modelo de estudo lógico: o modal, que segundo ela, complementa a lógica clássica. Os conceitos modais são divididos em modalidades aléticas (modos da verdade), epistêmicas (modos do conhecimento), existenciais (modos de existência) e modalidades deônticas (modos de obrigação).

Marlon Nunes

SUA

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Hoje acordei e pensei
Em uma noite escura a descobri
E viajei para as galáxias mais distantes
Senti que tudo eu poderia sentir

O olhar é límpido como uma gardênia
Olho para o mundo e vejo claras estrelas
Vejo a glória chegar
E quero acreditar

Que tudo que está escondido
Ou subentendido
Um dia possa se revelar
Como portas para um novo mundo

Melhor, infinito
Alma, corpo, mente e voz
Sinto-me feliz, por você
Posso ainda lutar

E de mãos dadas salvaremos nossas almas
O amanhecer, o anoitecer, o madrugar-se
Tudo se completa a partir daqui
Desse tempo de Odisseu

Nada mais parece ser, é.
Penso em você como um arquétipo
Lua, água, ciclo
Uma Deusa, Orienta

Assim deve ser traçada a volta para casa
Nenhuma das sete deusas se comparam
Vulnerável ou Invulnerável
Ártemis ou Afrodite

Alquímica; transmutações
Inspiradora do amor carnal ou etéreo
A cada dia uma nova palavra
A cada palavra uma ultrapassada ideia

Estrela maior, calor
Minhas mãos, seu seio
Meus lábios, Véstia
O seu lugar ao centro da casa

Integridade e Inteireza
Ambição e Ímpeto, sem Poder
Receba melhor as ofertas
Sem conversa fiada

Em frente à lareira
Inquietante sabedoria
Um palácio brilhante
Ouro, Prata e Marfim

Pelo rio dos infernos
O fogo do céu
O mundo diante das chamas
Se devo morrer pelo fogo

Que seja ao menos por meio do teu
Aqui jaz Oudeis, ninguém
Pisa sobre serpentes venenosas
E desce ao reino dos mortos

E trazê-la morro acima
Perante as trevas
Com sua música
Como que por encanto

As rochas se quebram
E os heróis se rendem
E desistem de chegar
À Terra prometida

Seu Sentimento
Sua Dor, Sua Razão
Sua Percepção
Totalmente Sua

Sua, Ela deve ser

Marlon Nunes

MACACONAUTAS

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A nave sai sem destino
Carrega os macacos
Passa por Marte e Saturno
Pousa em seus anéis
Os macacos a flutuar
As mãos nos botões
Na baixa gravidade
Pensam em destruir
O planeta azul
Sem pele e com nuvens
Gás carbônico, enxofre
Garantia de um mundo mais feliz
Os macaconautas
Comem Hambúrguer
Os macaconautas pertencem
A Klu Klux Klan
Os micos olham à distância
Três macacos sábios
Espreitam o templo
Olhar, ouvir, falar, negar
Os macaconautas a vomitar

Marlon Nunes

O MUNDO SE FEZ ASSIM

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ROTAÇÃO E TRANSLAÇÃO
E A MÁQUINA
COM SEUS BITS
PARALISIA, EUGENIA
CRIANÇAS NO LIQUIDIFICADOR
NOVOS MONSTROS SÃO CRIADOS
CIRANDA E CIRCO
PALHAÇOS SÃO MOLESTADOS
O MUNDO SE FEZ ASSIM
EXPLOSÃO E VULCÃO
A MÁQUINA
A ENGRENAGEM
SEUS DENTES PERVERSOS
MASTIGAM OS HOMENS
MÁQUINA, MÁQUINA, MÁQUINA, MÁQUINA

Marlon Nunes

CRIPTICONS

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Em uma época de pandemias, fome e violência, uma camada de poluição impedia que os raios solares chegassem ao planeta Terra com a devida intensidade. Por esse motivo a atmosfera terrestre se tornara um ambiente hostil as condições de vida necessárias para os seres humanos, que aos milhares padeciam de ano a ano. Os biomas haviam se transformado tanto que os oceanos em partes eram congelados e em outras invadiam as placas continentais. Para sobreviver era necessário que os organismos desenvolvessem características muito especias de resistência. Nesse sentido quem desenvolvesse a capacidade de pensar, analisar e criticar a realidade contemporânea, desenvolvia também uma substância que ao entrar na corrente sanguínea transformava esses os seres humanos em organismos mais fortes e adaptados as condições impostas pelo meio. Essa substância recebera o nome de: “A.V.E.C.N.P.C”, uma sigla criada para o que chamavam de: “A VIDA ENCONTRA CONTINUIDADE NO PENSAMENTO CRÍTICO”. Esses seres eram conhecidos como os CRIPTICONS, seres capazes de pensar criticamente a realidade. Geralmente um ser humano normal para aquelas condições vivia aproximadamente de dez a quinze anos, mas quando se tornava um CRIPTICON, passava a viver em torno de sessenta anos, tempo suficiente para que as suas esperanças de uma vida melhor não acabassem.
Essa substância denominada “A.V.E.C.N.P.C” fazia com que os seres humanos ficassem muito mais fortes para enfrentar a MANEIRA NATURAL DE PENSAR. O que seria então a MANEIRA NATURAL DE PENSAR? Essa era caracterizada pela aceitação e alienação. Pela maneira de enxergar com naturalidade a competitividade do sistema no qual a humanidade vivia. Um sistema opressor, muito mais burocratizado e tecnocratizado. Esse sistema era conhecido como: “ALISTA”.
Esses seres, os CRIPTICONS lutavam por melhores condições de vida pois não concordavam com a verdade que estavam vivendo. Todos os dias presenciavam milhares de humanos mortos e o fim da raça humana se tornava mais próximo se não fossem tomadas atitudes drásticas com relação a administração do planeta. A transformação era necessária, o PONTO DE MUTAÇÃO COLETIVO era necessário.
O problema maior a ser enfrentado pelos CRIPTICONS eram seus inimigos diretos: os CAPTALISTICONS, esses últimos eram constituídos de uma mistura de Capitalismo e Apocalipse. Possuíam o necessário para impor o Terror e o Poder. Possuíam o domínio dos meios de produção e não se importavam com o futuro tomado pela raça humana, pois os CAPTALISTICONS após anos de Industrialização e Tecnologização, se transformaram em máquinas e como máquinas eram frios e não se importavam mais com as antigas necessidades: água, oxigênio, fauna e flora não faziam diferença para eles. O que fazia diferença era o Poder e a Economia. Não queriam perder o seu posto de LÍDERES. Sua aparência externa era como a dos seres humanos, mas por dentro eram, pura e exclusivamente máquinas, uma espécie de androides.
Os CRIPTICONS viviam oprimidos por vários motivos. Eram oprimidos desde que nasciam, suas famílias geralmente miseráveis não possuíam ACESSO às informações, à cultura, à educação, às artes e outros vários aspectos da sociedade daquele tempo. Para conseguirem estudar, por exemplo, enfrentavam enormes problemas: tinham que concordar com o sistema tecnocrático, falar outras línguas, conhecer variadas tecnologias, viverem disfarçados, todos esses e mais o problema econômico, talvez o principal, pois a moeda permitiria o ACESSO à cultura, à arte, e somente assim poderiam criar filosoficamente estratégias para vencer os CAPTALISTICONS.
A saga dos CAPTALISTICONS continuava: guerras, atentados, tudo em prol da economia gerada por esses acontecimentos e em nome da sua “NOVA ORDEM MUNDIAL”. Em nome do seu Deus, MAQUYTREIA os CAPTALISTICONS imprimiam as leis do “ALISTA” sobre todos os desavisados. O conflito entre CRIPTICONS E CAPTALISTICONS era extremamente desigual, pois quando descobertos os CRIPTICONS eram presos e sofriam as mais variadas retaliações, e ao final se não se rendessem às vontades do Governo “ALISTA”, tornando-se escravos, eram sacrificados em vários rituais realizados em dois tipos de templos: as LANS e as TRANSALISTAS. As LANS eram edificações supostamente religiosas que enfocavam a “IDEOLOGIA CAPTALITICA” dos androides (geralmente pregada pelos PASTORES CAPTALISTICONS) e as TRANSALISTAS eram empresas que sugavam a energia vital da raça humana. Muitos humanos resistiam conscientemente ou inconscientemente ao regime tanto das LANS quanto das TRANSALISTAS. Quando inconscientes os humanos faziam parte do plano de dominação dos CAPTALISTICONS; quando conscientes lutavam calados por sua sobrevivência, pois qualquer ato de desobediência era punido com uma maior exploração da sua energia vital. Muitos não aguentavam e acabavam morrendo. Mas se contassem com a sorte de chegar ao nível máximo de consciência, seus organismos começavam a produzir a “A.V.E.C.N.P.C”. Nesse momento sofriam uma mutação genética e se transformavam em CRIPTICONS.
Após os humanos sofrerem a mutação estavam mais propícios para aguentarem as imposições imediatistas do sistema “ALISTA” e a saída sábia que encontravam era estudarem maneiras de invadir os sistemas de controle do Governo dos CAPTALISTICONS, somente dessa forma poderiam buscar uma vida mais digna e chegar no que chamavam de “EMANCIPAÇÃO HUMANA”. Para isso, era preciso que lutassem incessantemente durante todos os dias de suas vidas, o que causava um cansaço exorbitante ao fim desses, mas quando dormiam, o seu subconsciente fazia o trabalho de restabelecimento da sua energia vital para que pudessem prosseguir as batalhas diárias que estariam por vir. A própria “EMANCIPAÇÃO HUMANA” proporcionava o aumento da energia vital necessária para a sobrevivência e as lutas cotidianas.
Os CAPTALISTICONS se armavam de todas as maneiras imagináveis: computadores, veículos, televisores, tudo servia para a dominação. Através de inovações tecnológicas produzidas e reproduzidas cada vez mais rapidamente criavam universos de diversão (novelas, filmes, músicas, reality shows) fazendo com que os humanos desviassem sua atenção das verdadeiras necessidades: oxigênio, água, fauna e flora. Desviada a atenção dos humanos, ficava muito mais fácil a dominação e a exploração do planeta Terra para que as máquinas continuassem no Poder. Então a luta diária dos CRIPTICONS contra os CAPTALISTICONS baseava-se na intervenção eventualmente Crítica contra essas formas de utilização das técnicas de produção, tanto material quanto imaterial, já que, a maioria dos pensamentos não passavam de uma extensão das máquinas.
Os CRIPTICONS não procuravam o extermínio das máquinas, procuravam estratégias para que os dois lados pudessem conviver em harmonia mas enquanto isso não era alcançado através da EMANCIPAÇÃO HUMANA muitos CRIPTICONS e muitos CAPITALISTICONS desfaleciam nos campos de batalha.
Dentre os vários projetos de dominação dos CAPTALISTICONS, estava o de fingir-se de bons e alocar todos os filhotes da raça humana dentro de suas chamadas ESCOLISTICONS, ambientes esses onde os filhotes humanos aprendiam a servir às exigências do sistema de Governo “ALISTA. Técnicas das mais variadas eram aprendidas dentro das ESCOLISTICONS, e todas elas ao final faziam o mesmo sentido, servir a produção de inovações tecnológicas: máquinas, robores etc. Assim a força do exército CAPTALISTICO estaria sempre aumentando.
Os campos de batalha não eram mais como os campos da idade moderna, onde os tanques, os aviões e as bombas invadiam os territórios. Eram campos virtuais, e os guerreiros tanto CRIPTICONS quanto CAPTALISTICONS, lutavam apenas com as mentes e não com os membros. As ferramentas e armamentos desenvolvidos já proporcionavam a luta global pelo ambiente virtual. Os pensamentos eram enviados ao inimigo de uma forma sem que ele pudesse detectar que estava sendo alvejado. Eram trilhões de bites e volts envolvidos nas batalhas. Cada pensamento consumia uma quantidade suficiente para que em épocas mais antigas cidades inteiras fossem arrasadas. Mas como tudo haviam se desenvolvido os campos magnéticos também, e eles agiam como escudos de proteção contra ataques dos dois lados.
É preciso frisar que os CRIPTICONS eram ainda seres humanos, sentiam calor, frio, fome, amor, solidariedade, vontade de transformação etc. Se comunicavam e se reuniam em ambientes artificiais que representavam o que a História contava. Esses ambientes representavam na maioria das vezes aspectos naturais do planeta quando ainda era harmoniosa a convivência de todos os seres: praias, cachoeiras, florestas, rios, montanhas, pássaros, mamíferos, répteis. Assim buscavam mais forças para continuarem no indesejável, mas necessário conflito, que na maioria dos momentos parecia ser interminável.
Os CAPITALISTICONS, por mais que fossem poderosos, se dividiam em dois grupos: os CAPITALISTICONS GLOBAIS E OS CAPITALISTICONS UNIVERSAIS. Essa divisão ocorria devido ao acúmulo de informações que os androides já possuíam e para um melhor gerenciamento da linguagem das máquinas que arquivavam o conhecimento técnico. Os GLOBAIS detinham o conhecimento elétrico e os UNIVERSAIS detinham o conhecimento mecânico. Os dois grupos viviam em comum acordo, pois sabiam que o futuro da raça CAPTALITICA dependia da sua união. Esses dois grupos de CAPITALISTICONS utilizavam símbolos para se identificarem: os GLOBAIS utilizavam um raio dourado no braço direito e os UNIVERSAIS utilizavam uma engrenagem prateada também no braço direito. Isso permitia que não se confundissem nas tarefas. Mas havia um único símbolo que era utilizado tanto pelos GLOBAIS quanto pelos UNIVERSAIS: dois triângulos azuis fixados no peito, um para cima e outro para baixo. Esses símbolos eram utilizados nas pregações realizadas nas LANS e expostos em telas gigantescas fixadas pelos edifícios das cidades, como forma de divulgação do governo “ALISTA”.
Uma das únicas chances dos CRIPTICONS vencerem o confronto era esperar que um desentendimento ocorresse entre esses dois grupos. Mas, para isso, estratégias teriam que ser tomadas. Dessa maneira alguns CRIPTICONS com muito esforço conseguiam chegar no limite entre o máximo da consciência e a EMANCIPAÇÃO. Mas para a real EMANCIPAÇÃO era necessário passar pelas várias etapas impostas pelo sistema “ALISTA” sem titubear. Claro que algumas batalhas foram perdidas, várias vezes era impossível transpor o sistema organizacional dos androides. As planilhas de formatação, os outros humanos inconscientes, as outras máquinas, as ESCOLISTICONS, as LANS, as TRANSALISTAS, tudo era empecilho para a EMANCIPAÇÃO HUMANA. Então após várias tentativas, alguns chegavam bem próximo da tão pretendida EMANCIPAÇÃO. Quando se encontravam nos ambientes virtuais trocavam ideias sobre as possibilidades de invasão do sistema “ALISTA”. E geralmente, concluíam que a única saída era sempre buscar a cultura dos seus antepassados humanos. Lembravam nesses momentos, das tribos indígenas e comunidades mais antigas, e embora não as tivessem conhecido, graças ao acesso a alguns arquivos podiam utilizar alguns computadores que mesmo sendo mais antigos eram capazes de holografar imagens.

Continua...!

Marlon Nunes

Nosso Carnaval

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Pessoas saem por aí dizendo:
Uma cervejinha seria muito agradável
Lúpulo e cevada
Todos enchem a cara
Para o descanso ou a diversão
Não suportemos toda essa hipocrisia
Drogas são drogas
Chupe, beba, coma, durma, cheire, sonhe.

Assista T.V. e continue vivendo sua medíocre vida
Sem Deus, sem o demônio
Mas, continue vivendo e tomando sua cervejinha
Pois somos todos felizes
O carnaval vem aí
E mais uma vez é hora de usar, cheirar, meter, botar pra fuder
Estamos livres agora

Nem as mídias nos pegarão
Estamos livres, pois é carnaval
Beijemos todas as bocas
Degustemos todas as vaginas
Engolimos todos os pênis
E engasguemos

Com toda perversidade social
Chamemos todos de queridos
Idolatremos a todos e continuemos chamando todos de amor
Pois somos os amores de todos
Somos perdidos, somos errados
E não conseguiremos descobrir a nós mesmos
Por isso continuemos toda a hipocrisia

É carnaval
É carnaval
É carnaval

Perdoem-nos todos os nossos egos
Egocêntricos
Um furo nos umbigos
E as falsas amizades que não lembram de mim
Mas meus instintos carentes
Fazem-me lembrar delas
Perdidas, malditas
Almas que se esquecem e me fazem lembrar

Perdida, estou eu.
Que imploro por tudo
E escrevo minhas verdades e espero respostas
Não sei o porquê!
Talvez idiota
Sim, idiota
Porque não sei bem como sou
Já é passada a hora de lembrar de mim
Porque não me lembro como sou
Mas lembro de escrever recados
E esperar pelas respostas
De falsos e falsas
Aproveitem-se, o tempo está acabando

Afinal,

É carnaval
É carnaval
É carnaval

E todos voltarão a ser felizes
Inclusive Eu
Porque sempre vivi uma mentira
E nunca descobri
Ser legal, Ser bacana
Ser Social.
Sociável.

Nem as conheço, mas as chamo de queridas
Pois somos todos queridos pelo inferno
As conheço em um noite, e as chamo de queridos
Pois elas tocam, sei lá o quê!
Meu sexo, ou meu coração!
Mas tocam, e é isso que me interessa!
Samba, Rock, Metal, Alternativo.
Tocam!

E me sinto feliz assim
E quem será você para contradizer o que vivo
Nunca deixarão de ser
O que conheci em uma noite
Nem nunca deixarão ser meus amigos
Porque eles me conhecem melhor que você
Do que o esperma que me penetra

Do que todos os espermas que me penetraram
Então eu vou voar
Então eu com o fluxo
Nas noites, e nas cervejinhas que me comprazem
Nas noites que me sustentam
Nas idiotices que já fiz
Nas pessoas em que já acreditei

Somos apenas mais umas
Doses de pessoas
Que não sabem o que querem
Mas mesmo assim, somos nós mesmos
Com temores ou sem eles
Somos música
Somos poesia
Somos carne
Somos alma
Somos som

Somos apenas Eu e Você.
Somos amiguinhos
Há mais de dois segundos
Somos amigos
Somos amantes
Somos gozadores
Somos libertos
De todos os males
Somos livres

É carnaval
É carnaval
É carnaval

Os tambores soam nas ruas
E o casal trepa ao luar
E o outro casal transa na escuridão
E os preservativos são deixados nas sarjetas
E os espermas adentram as galerias de esgoto
E mais subumanos são criados
Dejetos depositados a beira dos rios
E crianças jogadas nas lixeiras

Sorriam, pois

É carnaval
É carnaval
É carnaval

E todos os meus amigos são mulheres
E eu os escuto
Com meu sentimento
E todos os meus amigos são homens
E eles choram e eu os escuto e ao final todos me comem
Como se todos os homens não quisessem comer
E que continuemos todos felizes
Tomando nossas cervejinhas

Enquanto alguns bebem águas putrefas
Com ratos, leishmaniose
Todos sorriem
Felizes, pois
É carnaval
É carnaval
É carnaval

Enquanto alguns morrem nas encostas
Outros continuam a beber suas cervejinhas
Felizes sobre tetos protegidos por sua hipocrisia matinal
E a água entra nos becos
E outros alguns bebem as águas
Da chuva o que resta, são idiotas felizes
Que chamam uns aos outros de amor
Com letras minúsculas, pois

Não merecem maiores esforços
São feitos por hipocrisia
O asfalto, os comentários
Os felizes do carnaval
E esta sempre será a arte de guardar um segredo
Falar pra quê se não querem escutar
Seguiremos no piloto automático
Mas tomando nossa cervejinha
Felizes e sorridentes

Pois as pessoas morrem e eu não estou nem ai
Quero mais é ser feliz, pois

É carnaval
É carnaval
É carnaval

Samba, rock, ideologias à parte, o que interessa é ser feliz.
Nos cemitérios, almas penam pelas mortes em acidentes
Trágicos filmes da vida real
Expostos corpos por todas as estradas
E continuamos felizes, pois
A mulata balança os seus quadris
A procura de uma vida melhor
E as prostitutas balançam seus braços
Em busca de uma vida melhor
Os trabalhadores constroem suas fantasias
E Penam sobre o calor
E produzem monstros
Sorriam

Ainda É carnaval
Ainda É carnaval
Ainda É carnaval

E todos são amores
E todos são apaixonados
E todos irão para o inferno
E todos desejam mais do que podem possuir
Todos querem um milhão ou milhões
Todos são avarentos
Todos jogam nas loterias
Todos jogam jogos de azar
Todos querem ficar ricos
Rápida e sem sentido é essa vida
E devemos aprender a destruir
E devemos aprender a desconstruir
Pois somos todos alto sustentáveis

Devemos matar e desmatar
Porque é desmatando que se aprende a matar
E o porta estandarte balança a flâmula
E o cantor solta as belas asneiras
E repete o que sempre foi dito inúmeras vezes
Por favor, sem palavras repetidas
Que preguiça
E todos chamam-se de amor
Vocês são demais

E os músicos tocam as cuícas
E as pessoas dançam, pois
Todos estão livres
Afinal é carnaval
Estamos livres e podemos fazer tudo
Podemos chamar nossos amigos de amor
Somos sociabilizados
Sinto uma tensão na cabeça
Pois sou sociabilizada
Sou uma pessoa querida
E quero continuar sorrindo

Pois,

É carnaval
É a época da canção iluminada
E as estradas escuras trazem os mortos
E as pessoas são infectadas
Doenças das mais variadas
Sambem e sorriam
Pois os garis estão sendo satirizados
Pela estrela de Davi

E eu continuo insistindo, naqueles que não olham por mim
Acho que perdi minha cabeça há muito
E por isso adoro os carros alegóricos
Adoro os trios elétricos
Adoro ser feliz falsamente
Adoro ser sociabilizado
Adoro ser domesticado
Adoro ser ideologizado
Adoro Samba Rock, ou somente Samba ou somente Rock
Pois, sou sociabilizado

É carnaval
É carnaval
É carnaval

O que me resta é a cervejinha com todos os falsos amigos que me restam e os quais eu imploro pelas respostas aos meus recados.


Marlon Nunes
27 de janeiro de 2010

O Poder

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Escreverei todos os dias
As nossas peripécias
Lembrarei todos os minutos
O seu cheiro
O seu gosto
Os seus gestos

Escreverei todo o amor
Vivido e presenciado
Demonstrarei tudo que merece
Acabarei em versos simples
Todo o sentimento
Digitarei seu vestido e suas cores

Imprimirei suas pernas
Sob as minhas
Caminharei em direção ao Mártires
Da humanidade
Com a sua paciência
E condolescência

E continuarei
Escrevendo por meses
O nosso Amor
A nossa vida
O nosso ardor
E que tudo seja realidade

E que o seu Amor seja real
Que os deuses não possam descrever
E viajemos para as maiores estrelas
Via estradas floridas e campos gramados
Por trens transcontinentais
E barcos carregados de bálsamo

Que o nosso amor se divida
E se complete
Por todos os dias
E que criemos um livro
Sobre o nosso entendimento
Que as palavras se façam orgulho

As crianças possam se orgulhar
E acreditar em um mundo mais calmo
E menos injusto
Mais adocicado como os seus beijos
E aromatizados como os lírios dos vales
Mais profundos da Terra

E que as placas se movam e formem outros continentes
Os vulcões jorrem magma por todo nosso amor
E nossos movimentos simultâneos promovam uma revolução
Se um dia os Equinócios se modificarem
Os Solstícios também não serão mais os mesmos
E as temperaturas dos nossos corpos se valerão

De inóspitas causas
Em uma pequena oscilação periódica
Da forma peristáltica de nosso sangue ao coração
Da alimentação ao estômago
Todos os estômatos envolvidos nas trocas gasosas
Da suas membranas endoplasmáticas

E as bibliotecas se transformariam em Cariotecas
Nenhuma bomba nuclear
Poderia destruir
O ar puro que nos trazes
Nem as indústrias petroquímicas
O fariam por dezenas de anos

Tudo se concentraria em poder
Em amar o poder de poder amar
Como proteína que sustenta um mamífero carnívoro
Ou gás carbônico que sustenta os vegetais
Retículos que sustentam ao Etanol
Química que destrói a vida

Tudo isso ainda não seria suficiente
Como um organello
Pequeno organismo vivo
Num cubo
Viveríamos ao “Deus dará”
Nem as úlceras de Jó de Uz

Nos comprometeriam
Provocadas por Satanás
Teríamos o poder
Poder de poder curar

Voltando, escreverei todos os dias
Nossos romances
Feitos todos os dias
Sobre os Céus e as Luas
Da Terra ou de Marte
Nem Phobos nem Deimos

Todos os satélites sairiam de suas órbitas
E os pássaros perdidos sem suas rotas
Mas ali continuaríamos
Firmes e fortes, como o “Poder”
O Poder de poder Amar

Marlon Nunes
21 de janeiro de 2010

Minha Rainha Gardênia

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Há um ano vim a escutá-la
Há um mês, vê-la e tocá-la
Seus dedos longos e finos
Tocam as notas

Delicados percorrem as mais longas distâncias
Pelo corpo esbelto e sadio
Cumpro religiosamente as nossas promessas
Abandono todas as coisas

Lambe várias vezes os dedos
Tamanho o espírito
Gardênio, e como planejado a descubro
De suas vestes, resta a pele

Educado para a Guerra
A donzela para o descanso
Agora é suficientemente forte
Para andar junto a mim

A soma e a substância
O som e o ouvido
Escutam os delírios
Graciosos e perceptivos

Em doses cavalares
Tudo vai aumentando
O prazer, o desejo, a vontade
E mais tarde

Naqueles momentos antes do sol se por
Ou durante os póstumos
Seguiremos juntos até o alvorecer
De todos os astros

E sempre poderei ver
Anjo dos sortilégios negativos
Proteja-nos dos empreendimentos malignos
A fortuna do amor nos aliviará

Seus cheiros, suas entranhas
Seu sangue, minha língua
Anoitecer assim sobre a garoa fria
E sentir sua alma


O Espírito superior volta
Como as notas que saem de sua boca
A força que me trazes
Ergue a minha espada

E as mortes deixadas pelo caminho
Impuseram-me o presságio
De uma nova Terra
Onde você, Donzela

Segue o caminho da exatidão
Retilínea. A Rainha desejada e amada
Ninfa Moura, traz de onde vem eloquência
E um velho lenço de linho nos cobre

Quiseram um dia o regicídio
E os ladrões se perderam pelo caminho
Mas o Rei voltou
E reergueu seu império

Graças à sua Majestade, a Rainha
Cantando ao pé do ouvido
Enrijece para as novas batalhas
E tocando-o suavemente, descansa

Dos seus ombros
Carrega a dor
Dos seus lábios
A melancolia

Do fronte a paisagem da partida
E tais emblemas
Sucumbem o florescer de uma nova era

Um novo reinado
Merecido é o descanso por entre seus braços

Rainha


Marlon Nunes
27 de dezembro de 2009

O QUE É FICÇÃO

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O livro “O que é ficção” da professora Ivete Walty inicia com um pequeno questionamento: “Aí não tem ficção?”. Com o exemplo da criança que não entende o termo ficção e o relaciona com os discos voadores das histórias contadas pelos adultos, a autora justifica o interesse e a necessidade de se refletir a relação entre realidade e ficção; e a função da ficção em nossa sociedade.

No segundo excurso a autora distingue três acepções de ficção: a) ficção científica - “narrativas geralmente verbais ou fílmicas, cujo enredo se baseia no desenvolvimento científico e nas situações decorrentes de tal desenvolvimento no tempo e no espaço”. Nesse sentido cita alguns livros e filmes que durante a época de sua elaboração visualizam um futuro mais moderno: Vinte mil léguas submarinas, Admirável mundo novo, 1984... b) ficção ligada a arte (pintura, literatura, teatro, cinema...); cita Platão e diz que ele considerava a arte inferior às outras manifestações do conhecimento, já Aristóteles reconhece a importância da arte e até sua superioridade em relação à ciência. “Ficção seria, pois, criação da imaginação, da fantasia, sem existência real, apenas imaginária”.

No terceiro capítulo a partir de outro questionamento: “A realidade da ficção ou a ficção da realidade?”, cita uma passagem de um texto de Machado de Assis no qual um pássaro vive preso e depois por meio de um homem que o compra descobre aos poucos a liberdade. Com isso, a autora demonstra que “a visão de mundo das pessoas varia de acordo com o lugar que cada uma ocupa no espaço geográfico, social, econômico etc. Depois lembra uma discussão realizada entre ela e um senhor sobre ricos e pobres. Para o senhor os pobres só existiam devido aos ricos, pois os ricos ofereciam empregos aos pobres. Posição essa contrária a da autora. Para ela, os pobres é que sustentam os ricos através da sua força laboral (nessa perspectiva cita Marilena Chauí retomando Marx e Althusser, para assim, discutir a questão do domínio ideológico. E a partir daí perguntar mais uma vez: “Onde está a ficção? Como vivemos com ela?”. E ainda discutir a questão do simulacro em Platão e Deleuze. “Deleuze faz a chamada reversão do platonismo, quando salienta que a função do simulacro é subverter a ordem hierárquica de modelo, cópia e simulacro, mostrando que tudo é simulacro, tudo é representação, ou seja, tudo são sombras. O fato de existir o simulacro nos permite discutir a legitimidade tanto do original como da cópia”.

No texto “Uma faca de dois gumes”, a autora discute a função dos termos ficção significando criação e do termo produção que é o oposto, repetição. Dentro desse contexto, mais adiante ela enfatiza a função da ideologia dominante e relaciona o comportamento das pessoas ao senso comum: “Pessoa de bom senso é a pessoa que age de acordo com a ideologia dominante, as outras são loucas, sonhadoras, irresponsáveis, preguiçosas etc.

Depois nesse mesmo capítulo a autora recorre a Freud (id, ego, superego) e Marcuse (mais-repressão) para explicar os mecanismos de controle das sociedades industrializadas e assimila Marx para dizer que “o trabalho do qual homem não retira nenhum prazer é a maior forma de controle do princípio da realidade nesse tipo de sociedade”. Segundo a autora Freud mostra que o princípio do prazer é resgatado através da fantasia. “Aí é que está a faca de dois gumes: o sistema sabe se aproveitar também dessa necessidade de fantasia do homem”.

Através da análise do discurso tele-novelístico e do cinema a professora Ivete demonstra que a dominação ideológica se faz também nos momentos de descanso por exemplo pelo bombardeio publicitário durante o que é exibido na T.V. “Essa ficção mata aquilo que deveria ser sua essência, a magia, a poesia, a criação, e instaura o senso comum, o bom senso”. “Usa-se a necessidade de prazer, de fantasia para se impor a repressão, a verdade oficial”.

Então, pergunta mais uma vez a autora: “Seria a tão decantada arte uma saída?”. Faz assim uma comparação entre a arte que está associada ao conhecimento racional, imune às emoções: “A ficção pode ser a saída, a libertação, a absoluta denúncia ou a reduplicação do real a que está submetida”.

Na metade do livro a autora propõe que “passemos a ler o mundo tanto o dado como real, como o dado ficcional, e procuremos abalar os limites que dividem os dois”. Ao final do capítulo “Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come” a autora lembra que: “o texto ficcional é o simulacro, a potência que nega tanto o modelo quanto a cópia, logo, é preciso olhá-lo como parte integrante do viver humano...”.

Seguindo em “De textos e textos”, discorre a importância do discurso mítico: “É importante ressaltar que as personagens míticas integram nosso real de forma efetiva”. Descreve sobre o texto onírico (os sonhos): “enriquecedor é considerar o sonho como um texto produzido por nós, em que nós atuamos e vemos atuar a sociedade”. Ainda considera que nós mesmos somos textos a sermos lidos, sujeitos a várias leituras. A palavra personagem vem de persona, máscara grega utilizada na representação das tragédias e comédias. Somos personagens sociais. Logo após a autora faz uma análise sobre a literatura e segundo ela “constatamos que todos os critérios utilizados para se conceituar literatura são relativos, e devemos lidar com eles como operadores para efetuar a leitura dos textos e a leitura do mundo, cientes de sua relatividade”.

Após a análise dos discursos marcados pela ficcionalidade, pela representação, pela criação a professora propõe a análise dos discursos que têm o estatuto de verdade. Então começa pelo discurso histórico. O que é história? Discorre que: “A história escrita nos livros, ensinada nas escolas é, geralmente, a versão oficial que interessa ao Poder, logo, reproduz o interesse da ideologia dominante. Os indivíduos esquecem-se que são os sujeitos da história, limitam-se a desempenhar o papel de objeto. A autora cita Guimarães Rosa: “a estória não se quer história. A estória, em rigor, deve ser contra a História. A estória, às vezes quer-se um pouco parecida à anedota”.

Assim, os textos histórico, jornalístico e publicitário envolvem elementos de diferentes ordens: a ideologia do órgão emissor, do patrocinador, o tipo de público etc. “As imagens são vibrantes, o som convidativo e as palavras sedutoras”. Através desses discursos criam-se ambientes de competição, e você quer exibir o seu Poder de compra, seduzir outras pessoas.

No último capítulo “Cada coisa em seu lugar, cada macaco no seu galho”, a autora argumenta que “nossa sociedade se estabelece sobre uma cisão, sobre um corte, uma ruptura: a separação entre o saber e o fazer”. A história fica sendo algo muito distante de cada cidadão (o discurso verdadeiro, intocável, irrefutável). Na escola, ensina-se a norma culta da língua, a língua da classe dominante, ensina-se a matemática, a física, a química etc. Como coisa feita, preestabelecida para atingir os objetivos da classe dominante. O aluno que não se adequa a tais ensinamentos é chamado de burro, ignorante, incapaz, desajustado, problemático; é sufocado, massacrado”.

Assim a ficção “é uma forma de saber, de Poder e se chegar a ameaçar o sistema ele a exclui ou assimila. Assim, um discurso-denúncia pode ser esvaziado, neutralizado como se desativa uma bomba que pode destruir tudo o que se encontra à sua volta”. “A ficção é um discurso tão digno de crédito como outro qualquer, porque, como qualquer outro, ela faz uma leitura do real. Reduplicadora ou contestadora, não importa, mas uma leitura tão confiável quanto a da ciência ou da história”.

Ivete Walty termina o seu livro com a seguinte afirmativa sobre a ficção: “Narrativa verossímel ou absurda, não interessa, o que importa é o real re-velado por ela, e, mais ainda, sua atitude crítica enquanto leitor, ouvinte ou espectador.

DÚVIDAS SOBRE O IMAGINÁRIO

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No livro “Dúvidas sobre o imaginário”, o filósofo Gilles Deleuze discorre sobre a diferença, o paradoxo existente entre o cinema do pré-guerra e do pós-guerra. Segundo Deleuze, existem algumas características que identificam as transformações ocorridas nos filmes antes e depois da Segunda Grande Guerra Mundial. Dessa maneira, cita como exemplo o modelo do cineasta soviético Serguei Mikhailovitch Eisenstein: “Einsenstein fez desse circuito imagem-todo, onde um relança o outro: o todo muda ao mesmo tempo em que as imagens se encadeiam. Ele invoca a dialética”. Percebemos com essa citação que, além de uma análise filosófica da linguagem cinematográfica, Deleuze analisa também as técnicas utilizadas por essa indústria. Ainda comenta que a Teoria Eisensteiniana corresponde a um modelo que representa uma Totalidade Aberta e isso significa que procura dessa forma relações comensuráveis ou cortes racionais entre as imagens, na própria imagem e entre a imagem e o todo. Segundo o autor, Eisenstein primava pelo visual fazendo do sonoro uma nova dimensão, uma quarta dimensão admirável que complementava o restante da arte cinematográfica. Esse modelo buscava assim uma dialética entre a Interiorização e a Exteriorização, numa relação de desenvolvimento da mudança do todo e, consequentemente, do encadeamento das idéias que na prática corresponde à relação plano-montagem. Segundo Deleuze, Eisenstein ainda montava seus raccords de acordo com o número de ouro. O número de ouro ou razão áurea ( - Phi) é um número irracional misterioso e enigmático que nos surge numa infinidade de elementos da natureza na forma de uma razão, sendo considerada por muitos como uma oferta de Deus ao mundo, equivalente ao valor de:

Já o cinema pós-guerra, Deleuze acredita ser um cinema sem maiores preocupações com a racionalidade, pois esse cinema rompe com o modelo da Totalidade Aberta, fazendo emergir todos os tipos de cortes irracionais, de razões incomensuráveis entre as imagens (signos). Deleuze então explica que os falsos raccords se tornam a lei. E se dessa maneira os cortes irracionais se tornam essenciais, ocorre então uma inversão de valores na arte cinematográfica: “o essencial não é mais a imagem-movimento, é antes a imagem-tempo”. Sendo assim, o cinema falado do pós-guerra vai em direção a uma autonomia do sonoro; para um corte irracional entre o sonoro e o visual. “Não há mais totalização, porque o tempo já não decorre do movimento para medi-lo, porém se mostra nele mesmo para suscitar falsos movimentos”.

Mas segundo Deleuze, essa diferença dos modelos pré-guerra e pós-guerra não se faz tão importante, pois o cinema terá quantos modelos forem necessários de acordo com a época, a História, seus ritmos etc. O que importa para Deleuze são as ressonâncias. Fazendo uma comparação com a Filosofia, Deleuze explica que tanto o cinema quanto a Filosofia possuem trocas mútuas independente de qualquer primado geral. Para Deleuze, a relação cinema-filosofia é a relação imagem-conceito. E, de forma dialética, as imagens e o conceito se formam e se modificam. Por exemplo: “o cinema tentou entender como funcionam os mecanismos do pensamento, mas ele não é nada abstrato para isso, ao contrário”.

Deleuze responde ainda em suas palavras sobre o imaginário algumas questões sobre as Ideias. Para ele, as ideias não são mais que instâncias que se fazem nas imagens, nas funções e nos conceitos. As imagens se fazem signos. Segundo Deleuze, o cinema é como se fosse um passo de mágica, pois primeiramente o cinema é imagem-movimento, e nem sequer existe uma relação entre imagem e movimento, mas o cinema cria o automovimento da imagem. Então, o que interessa realmente, não é visualizar se o cinema tem uma pretensão de entendimento do universal, mas sim do singular. Pois a imagem, o signo, se define pelas suas singularidades, tanto nos cortes racionais da imagem-movimento quanto nos irracionais da imagem-tempo.

Continuando a discorrer acerca das dúvidas sobre o imaginário, Deleuze questiona se o imaginário é um bom conceito. Para ele existem dois pares de conceitos fundamentais para a compreensão do cinema: “o real e o irreal” e o “verdadeiro e o falso”. Como exemplo cita o fenômeno cristalino, no qual existe uma troca entre o límpido e o opaco. É preciso discernir sobre esses conceitos e o discernimento surge a partir do momento em que enxergamos que “o falso não é um erro ou uma confusão, mas uma potência que torna o verdadeiro indecidível”.

Sendo assim, o imaginário está na encruzilhada entre esses dois pares, pois o imaginário é a indiscernibilidade entre o real e o irreal. Ainda para o filósofo, o imaginário é um conjunto de trocas. Imaginar é fabricar imagens. Deleuze não acredita numa especificidade do imaginário, ele acredita, respectivamente, num regime orgânico das imagens que corresponde à imagem-movimento, um modelo de verdade; e em outro regime cristalino que substitui o modelo de verdade pela potência do falso como devir. Com relação a esses aspectos exemplifica citando Nietzsche: “Nietzsche é o exemplo de um discurso filosófico que se precipita em num regime cristalino, substituindo o modelo verdadeiro pela potência do devir, a organização por uma vida não orgânica, os encadeamentos lógicos pelos reencadeamentos páticos, libertinos (aforismos)”. Portanto Deleuze considera através de suas análises que, o que pretende na verdade não é uma análise do imaginário, mas uma análise do regime de signos num sentido taxonômico, uma classificação das imagens e ou dos signos.


DELEUZE, Gilles. Dúvidas sobre o imaginário. Rio de Janeiro: Editora 34, 1992.