CRIPTICONS

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Em uma época de pandemias, fome e violência, uma camada de poluição impedia que os raios solares chegassem ao planeta Terra com a devida intensidade. Por esse motivo a atmosfera terrestre se tornara um ambiente hostil as condições de vida necessárias para os seres humanos, que aos milhares padeciam de ano a ano. Os biomas haviam se transformado tanto que os oceanos em partes eram congelados e em outras invadiam as placas continentais. Para sobreviver era necessário que os organismos desenvolvessem características muito especias de resistência. Nesse sentido quem desenvolvesse a capacidade de pensar, analisar e criticar a realidade contemporânea, desenvolvia também uma substância que ao entrar na corrente sanguínea transformava esses os seres humanos em organismos mais fortes e adaptados as condições impostas pelo meio. Essa substância recebera o nome de: “A.V.E.C.N.P.C”, uma sigla criada para o que chamavam de: “A VIDA ENCONTRA CONTINUIDADE NO PENSAMENTO CRÍTICO”. Esses seres eram conhecidos como os CRIPTICONS, seres capazes de pensar criticamente a realidade. Geralmente um ser humano normal para aquelas condições vivia aproximadamente de dez a quinze anos, mas quando se tornava um CRIPTICON, passava a viver em torno de sessenta anos, tempo suficiente para que as suas esperanças de uma vida melhor não acabassem.
Essa substância denominada “A.V.E.C.N.P.C” fazia com que os seres humanos ficassem muito mais fortes para enfrentar a MANEIRA NATURAL DE PENSAR. O que seria então a MANEIRA NATURAL DE PENSAR? Essa era caracterizada pela aceitação e alienação. Pela maneira de enxergar com naturalidade a competitividade do sistema no qual a humanidade vivia. Um sistema opressor, muito mais burocratizado e tecnocratizado. Esse sistema era conhecido como: “ALISTA”.
Esses seres, os CRIPTICONS lutavam por melhores condições de vida pois não concordavam com a verdade que estavam vivendo. Todos os dias presenciavam milhares de humanos mortos e o fim da raça humana se tornava mais próximo se não fossem tomadas atitudes drásticas com relação a administração do planeta. A transformação era necessária, o PONTO DE MUTAÇÃO COLETIVO era necessário.
O problema maior a ser enfrentado pelos CRIPTICONS eram seus inimigos diretos: os CAPTALISTICONS, esses últimos eram constituídos de uma mistura de Capitalismo e Apocalipse. Possuíam o necessário para impor o Terror e o Poder. Possuíam o domínio dos meios de produção e não se importavam com o futuro tomado pela raça humana, pois os CAPTALISTICONS após anos de Industrialização e Tecnologização, se transformaram em máquinas e como máquinas eram frios e não se importavam mais com as antigas necessidades: água, oxigênio, fauna e flora não faziam diferença para eles. O que fazia diferença era o Poder e a Economia. Não queriam perder o seu posto de LÍDERES. Sua aparência externa era como a dos seres humanos, mas por dentro eram, pura e exclusivamente máquinas, uma espécie de androides.
Os CRIPTICONS viviam oprimidos por vários motivos. Eram oprimidos desde que nasciam, suas famílias geralmente miseráveis não possuíam ACESSO às informações, à cultura, à educação, às artes e outros vários aspectos da sociedade daquele tempo. Para conseguirem estudar, por exemplo, enfrentavam enormes problemas: tinham que concordar com o sistema tecnocrático, falar outras línguas, conhecer variadas tecnologias, viverem disfarçados, todos esses e mais o problema econômico, talvez o principal, pois a moeda permitiria o ACESSO à cultura, à arte, e somente assim poderiam criar filosoficamente estratégias para vencer os CAPTALISTICONS.
A saga dos CAPTALISTICONS continuava: guerras, atentados, tudo em prol da economia gerada por esses acontecimentos e em nome da sua “NOVA ORDEM MUNDIAL”. Em nome do seu Deus, MAQUYTREIA os CAPTALISTICONS imprimiam as leis do “ALISTA” sobre todos os desavisados. O conflito entre CRIPTICONS E CAPTALISTICONS era extremamente desigual, pois quando descobertos os CRIPTICONS eram presos e sofriam as mais variadas retaliações, e ao final se não se rendessem às vontades do Governo “ALISTA”, tornando-se escravos, eram sacrificados em vários rituais realizados em dois tipos de templos: as LANS e as TRANSALISTAS. As LANS eram edificações supostamente religiosas que enfocavam a “IDEOLOGIA CAPTALITICA” dos androides (geralmente pregada pelos PASTORES CAPTALISTICONS) e as TRANSALISTAS eram empresas que sugavam a energia vital da raça humana. Muitos humanos resistiam conscientemente ou inconscientemente ao regime tanto das LANS quanto das TRANSALISTAS. Quando inconscientes os humanos faziam parte do plano de dominação dos CAPTALISTICONS; quando conscientes lutavam calados por sua sobrevivência, pois qualquer ato de desobediência era punido com uma maior exploração da sua energia vital. Muitos não aguentavam e acabavam morrendo. Mas se contassem com a sorte de chegar ao nível máximo de consciência, seus organismos começavam a produzir a “A.V.E.C.N.P.C”. Nesse momento sofriam uma mutação genética e se transformavam em CRIPTICONS.
Após os humanos sofrerem a mutação estavam mais propícios para aguentarem as imposições imediatistas do sistema “ALISTA” e a saída sábia que encontravam era estudarem maneiras de invadir os sistemas de controle do Governo dos CAPTALISTICONS, somente dessa forma poderiam buscar uma vida mais digna e chegar no que chamavam de “EMANCIPAÇÃO HUMANA”. Para isso, era preciso que lutassem incessantemente durante todos os dias de suas vidas, o que causava um cansaço exorbitante ao fim desses, mas quando dormiam, o seu subconsciente fazia o trabalho de restabelecimento da sua energia vital para que pudessem prosseguir as batalhas diárias que estariam por vir. A própria “EMANCIPAÇÃO HUMANA” proporcionava o aumento da energia vital necessária para a sobrevivência e as lutas cotidianas.
Os CAPTALISTICONS se armavam de todas as maneiras imagináveis: computadores, veículos, televisores, tudo servia para a dominação. Através de inovações tecnológicas produzidas e reproduzidas cada vez mais rapidamente criavam universos de diversão (novelas, filmes, músicas, reality shows) fazendo com que os humanos desviassem sua atenção das verdadeiras necessidades: oxigênio, água, fauna e flora. Desviada a atenção dos humanos, ficava muito mais fácil a dominação e a exploração do planeta Terra para que as máquinas continuassem no Poder. Então a luta diária dos CRIPTICONS contra os CAPTALISTICONS baseava-se na intervenção eventualmente Crítica contra essas formas de utilização das técnicas de produção, tanto material quanto imaterial, já que, a maioria dos pensamentos não passavam de uma extensão das máquinas.
Os CRIPTICONS não procuravam o extermínio das máquinas, procuravam estratégias para que os dois lados pudessem conviver em harmonia mas enquanto isso não era alcançado através da EMANCIPAÇÃO HUMANA muitos CRIPTICONS e muitos CAPITALISTICONS desfaleciam nos campos de batalha.
Dentre os vários projetos de dominação dos CAPTALISTICONS, estava o de fingir-se de bons e alocar todos os filhotes da raça humana dentro de suas chamadas ESCOLISTICONS, ambientes esses onde os filhotes humanos aprendiam a servir às exigências do sistema de Governo “ALISTA. Técnicas das mais variadas eram aprendidas dentro das ESCOLISTICONS, e todas elas ao final faziam o mesmo sentido, servir a produção de inovações tecnológicas: máquinas, robores etc. Assim a força do exército CAPTALISTICO estaria sempre aumentando.
Os campos de batalha não eram mais como os campos da idade moderna, onde os tanques, os aviões e as bombas invadiam os territórios. Eram campos virtuais, e os guerreiros tanto CRIPTICONS quanto CAPTALISTICONS, lutavam apenas com as mentes e não com os membros. As ferramentas e armamentos desenvolvidos já proporcionavam a luta global pelo ambiente virtual. Os pensamentos eram enviados ao inimigo de uma forma sem que ele pudesse detectar que estava sendo alvejado. Eram trilhões de bites e volts envolvidos nas batalhas. Cada pensamento consumia uma quantidade suficiente para que em épocas mais antigas cidades inteiras fossem arrasadas. Mas como tudo haviam se desenvolvido os campos magnéticos também, e eles agiam como escudos de proteção contra ataques dos dois lados.
É preciso frisar que os CRIPTICONS eram ainda seres humanos, sentiam calor, frio, fome, amor, solidariedade, vontade de transformação etc. Se comunicavam e se reuniam em ambientes artificiais que representavam o que a História contava. Esses ambientes representavam na maioria das vezes aspectos naturais do planeta quando ainda era harmoniosa a convivência de todos os seres: praias, cachoeiras, florestas, rios, montanhas, pássaros, mamíferos, répteis. Assim buscavam mais forças para continuarem no indesejável, mas necessário conflito, que na maioria dos momentos parecia ser interminável.
Os CAPITALISTICONS, por mais que fossem poderosos, se dividiam em dois grupos: os CAPITALISTICONS GLOBAIS E OS CAPITALISTICONS UNIVERSAIS. Essa divisão ocorria devido ao acúmulo de informações que os androides já possuíam e para um melhor gerenciamento da linguagem das máquinas que arquivavam o conhecimento técnico. Os GLOBAIS detinham o conhecimento elétrico e os UNIVERSAIS detinham o conhecimento mecânico. Os dois grupos viviam em comum acordo, pois sabiam que o futuro da raça CAPTALITICA dependia da sua união. Esses dois grupos de CAPITALISTICONS utilizavam símbolos para se identificarem: os GLOBAIS utilizavam um raio dourado no braço direito e os UNIVERSAIS utilizavam uma engrenagem prateada também no braço direito. Isso permitia que não se confundissem nas tarefas. Mas havia um único símbolo que era utilizado tanto pelos GLOBAIS quanto pelos UNIVERSAIS: dois triângulos azuis fixados no peito, um para cima e outro para baixo. Esses símbolos eram utilizados nas pregações realizadas nas LANS e expostos em telas gigantescas fixadas pelos edifícios das cidades, como forma de divulgação do governo “ALISTA”.
Uma das únicas chances dos CRIPTICONS vencerem o confronto era esperar que um desentendimento ocorresse entre esses dois grupos. Mas, para isso, estratégias teriam que ser tomadas. Dessa maneira alguns CRIPTICONS com muito esforço conseguiam chegar no limite entre o máximo da consciência e a EMANCIPAÇÃO. Mas para a real EMANCIPAÇÃO era necessário passar pelas várias etapas impostas pelo sistema “ALISTA” sem titubear. Claro que algumas batalhas foram perdidas, várias vezes era impossível transpor o sistema organizacional dos androides. As planilhas de formatação, os outros humanos inconscientes, as outras máquinas, as ESCOLISTICONS, as LANS, as TRANSALISTAS, tudo era empecilho para a EMANCIPAÇÃO HUMANA. Então após várias tentativas, alguns chegavam bem próximo da tão pretendida EMANCIPAÇÃO. Quando se encontravam nos ambientes virtuais trocavam ideias sobre as possibilidades de invasão do sistema “ALISTA”. E geralmente, concluíam que a única saída era sempre buscar a cultura dos seus antepassados humanos. Lembravam nesses momentos, das tribos indígenas e comunidades mais antigas, e embora não as tivessem conhecido, graças ao acesso a alguns arquivos podiam utilizar alguns computadores que mesmo sendo mais antigos eram capazes de holografar imagens.

Continua...!

Marlon Nunes

Nosso Carnaval

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Pessoas saem por aí dizendo:
Uma cervejinha seria muito agradável
Lúpulo e cevada
Todos enchem a cara
Para o descanso ou a diversão
Não suportemos toda essa hipocrisia
Drogas são drogas
Chupe, beba, coma, durma, cheire, sonhe.

Assista T.V. e continue vivendo sua medíocre vida
Sem Deus, sem o demônio
Mas, continue vivendo e tomando sua cervejinha
Pois somos todos felizes
O carnaval vem aí
E mais uma vez é hora de usar, cheirar, meter, botar pra fuder
Estamos livres agora

Nem as mídias nos pegarão
Estamos livres, pois é carnaval
Beijemos todas as bocas
Degustemos todas as vaginas
Engolimos todos os pênis
E engasguemos

Com toda perversidade social
Chamemos todos de queridos
Idolatremos a todos e continuemos chamando todos de amor
Pois somos os amores de todos
Somos perdidos, somos errados
E não conseguiremos descobrir a nós mesmos
Por isso continuemos toda a hipocrisia

É carnaval
É carnaval
É carnaval

Perdoem-nos todos os nossos egos
Egocêntricos
Um furo nos umbigos
E as falsas amizades que não lembram de mim
Mas meus instintos carentes
Fazem-me lembrar delas
Perdidas, malditas
Almas que se esquecem e me fazem lembrar

Perdida, estou eu.
Que imploro por tudo
E escrevo minhas verdades e espero respostas
Não sei o porquê!
Talvez idiota
Sim, idiota
Porque não sei bem como sou
Já é passada a hora de lembrar de mim
Porque não me lembro como sou
Mas lembro de escrever recados
E esperar pelas respostas
De falsos e falsas
Aproveitem-se, o tempo está acabando

Afinal,

É carnaval
É carnaval
É carnaval

E todos voltarão a ser felizes
Inclusive Eu
Porque sempre vivi uma mentira
E nunca descobri
Ser legal, Ser bacana
Ser Social.
Sociável.

Nem as conheço, mas as chamo de queridas
Pois somos todos queridos pelo inferno
As conheço em um noite, e as chamo de queridos
Pois elas tocam, sei lá o quê!
Meu sexo, ou meu coração!
Mas tocam, e é isso que me interessa!
Samba, Rock, Metal, Alternativo.
Tocam!

E me sinto feliz assim
E quem será você para contradizer o que vivo
Nunca deixarão de ser
O que conheci em uma noite
Nem nunca deixarão ser meus amigos
Porque eles me conhecem melhor que você
Do que o esperma que me penetra

Do que todos os espermas que me penetraram
Então eu vou voar
Então eu com o fluxo
Nas noites, e nas cervejinhas que me comprazem
Nas noites que me sustentam
Nas idiotices que já fiz
Nas pessoas em que já acreditei

Somos apenas mais umas
Doses de pessoas
Que não sabem o que querem
Mas mesmo assim, somos nós mesmos
Com temores ou sem eles
Somos música
Somos poesia
Somos carne
Somos alma
Somos som

Somos apenas Eu e Você.
Somos amiguinhos
Há mais de dois segundos
Somos amigos
Somos amantes
Somos gozadores
Somos libertos
De todos os males
Somos livres

É carnaval
É carnaval
É carnaval

Os tambores soam nas ruas
E o casal trepa ao luar
E o outro casal transa na escuridão
E os preservativos são deixados nas sarjetas
E os espermas adentram as galerias de esgoto
E mais subumanos são criados
Dejetos depositados a beira dos rios
E crianças jogadas nas lixeiras

Sorriam, pois

É carnaval
É carnaval
É carnaval

E todos os meus amigos são mulheres
E eu os escuto
Com meu sentimento
E todos os meus amigos são homens
E eles choram e eu os escuto e ao final todos me comem
Como se todos os homens não quisessem comer
E que continuemos todos felizes
Tomando nossas cervejinhas

Enquanto alguns bebem águas putrefas
Com ratos, leishmaniose
Todos sorriem
Felizes, pois
É carnaval
É carnaval
É carnaval

Enquanto alguns morrem nas encostas
Outros continuam a beber suas cervejinhas
Felizes sobre tetos protegidos por sua hipocrisia matinal
E a água entra nos becos
E outros alguns bebem as águas
Da chuva o que resta, são idiotas felizes
Que chamam uns aos outros de amor
Com letras minúsculas, pois

Não merecem maiores esforços
São feitos por hipocrisia
O asfalto, os comentários
Os felizes do carnaval
E esta sempre será a arte de guardar um segredo
Falar pra quê se não querem escutar
Seguiremos no piloto automático
Mas tomando nossa cervejinha
Felizes e sorridentes

Pois as pessoas morrem e eu não estou nem ai
Quero mais é ser feliz, pois

É carnaval
É carnaval
É carnaval

Samba, rock, ideologias à parte, o que interessa é ser feliz.
Nos cemitérios, almas penam pelas mortes em acidentes
Trágicos filmes da vida real
Expostos corpos por todas as estradas
E continuamos felizes, pois
A mulata balança os seus quadris
A procura de uma vida melhor
E as prostitutas balançam seus braços
Em busca de uma vida melhor
Os trabalhadores constroem suas fantasias
E Penam sobre o calor
E produzem monstros
Sorriam

Ainda É carnaval
Ainda É carnaval
Ainda É carnaval

E todos são amores
E todos são apaixonados
E todos irão para o inferno
E todos desejam mais do que podem possuir
Todos querem um milhão ou milhões
Todos são avarentos
Todos jogam nas loterias
Todos jogam jogos de azar
Todos querem ficar ricos
Rápida e sem sentido é essa vida
E devemos aprender a destruir
E devemos aprender a desconstruir
Pois somos todos alto sustentáveis

Devemos matar e desmatar
Porque é desmatando que se aprende a matar
E o porta estandarte balança a flâmula
E o cantor solta as belas asneiras
E repete o que sempre foi dito inúmeras vezes
Por favor, sem palavras repetidas
Que preguiça
E todos chamam-se de amor
Vocês são demais

E os músicos tocam as cuícas
E as pessoas dançam, pois
Todos estão livres
Afinal é carnaval
Estamos livres e podemos fazer tudo
Podemos chamar nossos amigos de amor
Somos sociabilizados
Sinto uma tensão na cabeça
Pois sou sociabilizada
Sou uma pessoa querida
E quero continuar sorrindo

Pois,

É carnaval
É a época da canção iluminada
E as estradas escuras trazem os mortos
E as pessoas são infectadas
Doenças das mais variadas
Sambem e sorriam
Pois os garis estão sendo satirizados
Pela estrela de Davi

E eu continuo insistindo, naqueles que não olham por mim
Acho que perdi minha cabeça há muito
E por isso adoro os carros alegóricos
Adoro os trios elétricos
Adoro ser feliz falsamente
Adoro ser sociabilizado
Adoro ser domesticado
Adoro ser ideologizado
Adoro Samba Rock, ou somente Samba ou somente Rock
Pois, sou sociabilizado

É carnaval
É carnaval
É carnaval

O que me resta é a cervejinha com todos os falsos amigos que me restam e os quais eu imploro pelas respostas aos meus recados.


Marlon Nunes
27 de janeiro de 2010

O Poder

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Escreverei todos os dias
As nossas peripécias
Lembrarei todos os minutos
O seu cheiro
O seu gosto
Os seus gestos

Escreverei todo o amor
Vivido e presenciado
Demonstrarei tudo que merece
Acabarei em versos simples
Todo o sentimento
Digitarei seu vestido e suas cores

Imprimirei suas pernas
Sob as minhas
Caminharei em direção ao Mártires
Da humanidade
Com a sua paciência
E condolescência

E continuarei
Escrevendo por meses
O nosso Amor
A nossa vida
O nosso ardor
E que tudo seja realidade

E que o seu Amor seja real
Que os deuses não possam descrever
E viajemos para as maiores estrelas
Via estradas floridas e campos gramados
Por trens transcontinentais
E barcos carregados de bálsamo

Que o nosso amor se divida
E se complete
Por todos os dias
E que criemos um livro
Sobre o nosso entendimento
Que as palavras se façam orgulho

As crianças possam se orgulhar
E acreditar em um mundo mais calmo
E menos injusto
Mais adocicado como os seus beijos
E aromatizados como os lírios dos vales
Mais profundos da Terra

E que as placas se movam e formem outros continentes
Os vulcões jorrem magma por todo nosso amor
E nossos movimentos simultâneos promovam uma revolução
Se um dia os Equinócios se modificarem
Os Solstícios também não serão mais os mesmos
E as temperaturas dos nossos corpos se valerão

De inóspitas causas
Em uma pequena oscilação periódica
Da forma peristáltica de nosso sangue ao coração
Da alimentação ao estômago
Todos os estômatos envolvidos nas trocas gasosas
Da suas membranas endoplasmáticas

E as bibliotecas se transformariam em Cariotecas
Nenhuma bomba nuclear
Poderia destruir
O ar puro que nos trazes
Nem as indústrias petroquímicas
O fariam por dezenas de anos

Tudo se concentraria em poder
Em amar o poder de poder amar
Como proteína que sustenta um mamífero carnívoro
Ou gás carbônico que sustenta os vegetais
Retículos que sustentam ao Etanol
Química que destrói a vida

Tudo isso ainda não seria suficiente
Como um organello
Pequeno organismo vivo
Num cubo
Viveríamos ao “Deus dará”
Nem as úlceras de Jó de Uz

Nos comprometeriam
Provocadas por Satanás
Teríamos o poder
Poder de poder curar

Voltando, escreverei todos os dias
Nossos romances
Feitos todos os dias
Sobre os Céus e as Luas
Da Terra ou de Marte
Nem Phobos nem Deimos

Todos os satélites sairiam de suas órbitas
E os pássaros perdidos sem suas rotas
Mas ali continuaríamos
Firmes e fortes, como o “Poder”
O Poder de poder Amar

Marlon Nunes
21 de janeiro de 2010

Minha Rainha Gardênia

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Há um ano vim a escutá-la
Há um mês, vê-la e tocá-la
Seus dedos longos e finos
Tocam as notas

Delicados percorrem as mais longas distâncias
Pelo corpo esbelto e sadio
Cumpro religiosamente as nossas promessas
Abandono todas as coisas

Lambe várias vezes os dedos
Tamanho o espírito
Gardênio, e como planejado a descubro
De suas vestes, resta a pele

Educado para a Guerra
A donzela para o descanso
Agora é suficientemente forte
Para andar junto a mim

A soma e a substância
O som e o ouvido
Escutam os delírios
Graciosos e perceptivos

Em doses cavalares
Tudo vai aumentando
O prazer, o desejo, a vontade
E mais tarde

Naqueles momentos antes do sol se por
Ou durante os póstumos
Seguiremos juntos até o alvorecer
De todos os astros

E sempre poderei ver
Anjo dos sortilégios negativos
Proteja-nos dos empreendimentos malignos
A fortuna do amor nos aliviará

Seus cheiros, suas entranhas
Seu sangue, minha língua
Anoitecer assim sobre a garoa fria
E sentir sua alma


O Espírito superior volta
Como as notas que saem de sua boca
A força que me trazes
Ergue a minha espada

E as mortes deixadas pelo caminho
Impuseram-me o presságio
De uma nova Terra
Onde você, Donzela

Segue o caminho da exatidão
Retilínea. A Rainha desejada e amada
Ninfa Moura, traz de onde vem eloquência
E um velho lenço de linho nos cobre

Quiseram um dia o regicídio
E os ladrões se perderam pelo caminho
Mas o Rei voltou
E reergueu seu império

Graças à sua Majestade, a Rainha
Cantando ao pé do ouvido
Enrijece para as novas batalhas
E tocando-o suavemente, descansa

Dos seus ombros
Carrega a dor
Dos seus lábios
A melancolia

Do fronte a paisagem da partida
E tais emblemas
Sucumbem o florescer de uma nova era

Um novo reinado
Merecido é o descanso por entre seus braços

Rainha


Marlon Nunes
27 de dezembro de 2009