Terra de Destino

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Saído da minha Terra de origem, enfim cheguei ao meu destino. Ao chegar deparei-me com uma certa estranheza, pois, o lugar onde eu vivia era assolado pelos maus espíritos, e dessa forma era quase impossível ter boas noites de sono. Já a Terra de destino parecia ser bem mais agradável: com um aroma de relva molhada e flores do campo rupestre. Assim, me sentira um pouco mais aliviado por estar longe dos ímpios e injustos.
Talvez os Deuses tenham me direcionado para esta Terra com algum objetivo, mas ainda, com o pouco tempo de estadia nesse novo mundo, era impossível saber se esse sentimento se tornaria verídico ou apenas era uma falsa impressão de meus instintos.
Esse mundo era bem mais calmo: com cavalos alados e brancos, carruagens vermelhas e rios de águas límpidas. Não que o meu mundo não tivesse isso também, mas aqui as coisas são abundantes e os maus espíritos não se aproximaram ainda desses bosques.
Os seres eram mais calados e concentrados; pareciam estar sempre meditando sobre algo; talvez por terem as almas bem mais desenvolvidas que no meu mundo se comportavam assim. Apesar de poucas palavras e alguns sorrisos, demonstravam enorme gratidão por viverem entre a natureza pura como no início em que os Deuses a formaram.
Sentia um enorme equilíbrio mental e corpóreo ao me aproximar das águas dos vales que eram em abundância. Pareciam águas santas! Fiquei-me perguntando: o que diria o Deus das águas filho de Urano e de Gaia diante de tanta beleza?
Existiam nas partes mais altas flores de todas as cores, mas as que predominavam eram as de tonalidade vermelha ou próximas disso. Fiquei sabendo depois de alguns dias que as flores em tons de vermelho representavam o Amor que resplandecia naquele local. Não que alguém tenha as plantado, mas elas estavam ali naturalmente. O próprio amor existente no local as fazia florescer.
Tudo parecia, num primeiro momento, uma grande mentira. Sempre lia nos livros do meu mundo que existia a promessa de um paraíso para quem seguisse as determinações da razão e não acreditava que poderia encontrar com tanta rapidez, tal lugar. Mas o engraçado era que tal lugar não era aquele prometido pelo reino da razão e das idéias, mas estava ali, e eu ainda estava vivo. Sentia o meu corpo, as vontades eram as mesmas, as necessidades também. Sempre imaginei que no paraíso os Seres seriam apenas em alma e não teriam os sentimentos físicos normais.
Ali não era assim, como o descrito nos livros do meu mundo, todos se comportavam como seres normais, ou seja, faziam e realizavam os mesmos atos naturais do meu mundo, mas com o diferencial de respeitarem uns aos outros. Quero dizer que possuíam corpos físicos e comiam e bebiam como no outro mundo.
Quando cheguei nesse descrito lugar pensei até que eu estivesse morto, mas devagar fui me restabelecendo que ainda estava no planeta Terra. Portanto um tom de reminiscência tomou conta de minha psique.
Lembrava de momentos vividos antes e de atos libidinosos causados a mim pelos maus espíritos do meu mundo. Escárnios e orgias afrodisíacas que havia feito me sucumbiam à alma quase que por todos os momentos. Calafrios tomavam conta de meus órgãos internos e a pele suava frio devido às ansiedades provocadas por Pandemos. Vivia cercado por golfinhos, cisnes, e pés de romã e limeira (símbolos afrodisíacos). Eu praticava assim, prostituição religiosa nos templos da Deusa maior, para que ela me aceitasse. Mas ao contrário, como Príapo, eu me tornava cada vez mais mau visto aos olhos dos outros habitantes.

Continua...

Marlon Nunes

O Canto Mágico de Tara

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Nas estradas o asfalto derrete
O Céu azul anuncia a aventura
A menina da charrete
Chega e destrói a estrutura

Entre as árvores retorcidas
Esconde-se espreitada
Mas uma vez aparecida
Demonstra-se amordaçada

Traz para o jantar a Mônada
E mais sete princípios
Deseja a vida imaginada

O raio do absoluto nos fere
Vejo-me perdido por entre a floresta
Sorrindo ela nos enobrece

O seu canto a de nos buscar

Marlon Nunes

Sagrada

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Amar me faz leve
Só penso em deitar ao seu lado
Para que você me guarde
E vejo-me tanto mais em ti grudado

Seu cheiro enobrece o meu sonho
A todo momento desejo o seu toque
Despedida de manhã, à tarde reencontro

A duras penas passam-se as horas
O relógio controla o tempo
Ao revê-la tudo melhora
Até o verde das gramíneas do campo

E do Monte Parnaso, consagra
De onde a observo, musa
Nossa História se torna sagrada

Marlon Nunes

Trezentos e sessenta e cinco dias

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Passou-se um ano
Passaram-se as horas
Viveram momentos
E continuaram andando

Na direção do amar
Cada segundo é especial
Complacência e solidariedade
Palavras trocadas ao entardecer

Os filhos pobres e miseráveis
Divina lealdade, um dragão alado
Encontram-se as melhores almas
Consomem-nos as labaredas

Dentro dos hospitais continuam as músicas
Salvando-nos das mazelas familiares
Não há fatos, mas interpretações
O quarto bagunçado, as roupas jogadas



Devido o cansaço do trabalho
Abaixo do sol do verão
O papelão esticado no chão
A mente estressada pela educação

A Hybris do Cáucaso, o excesso
Pois, não há aqui conformação
O fogo de Prometeu
Altas taxas de marginalização

Eles encontram-se nos condomínios
Um exército de pílulas
Restaurantes sofisticados
A coletividade sem um grão

Neuroses domésticas trocadas
No furor da paixão
O voto de pobreza
Zombado pelo espírito pequeno capitalizado

O que diria cristo disso?
Uma central de abastecimento
Os alimentos não comercializados
Corpos degradados misturam-se ao resto apodrecido



Carros carregados por assassinos sujos de sangue
Misturam-se aos inocentes
Escorpiões por entre as tábuas
A vontade presa nas cores de Almodóvar

As paredes pichadas pela necessidade de expressar
Com toda a opressão
Enxergamos nossas necessidades
Ensaiamos a cegueira

Como Sara e os magos da Idade Média
As trombetas soam sutilmente
Anunciando a chegada da paz
Ainda que você morra, viverá

O desafio de Deus nos trouxe
Um ao outro, agora, numa só verdade
Pensamos juntos, discutimos juntos
O discurso e o amor

Deitaremos na areia dos mares
E ditaremos a força das ondas
A direção dos Alísios...

Marlon Nunes