Nosso Carnaval

Pessoas saem por aí dizendo:
Uma cervejinha seria muito agradável
Lúpulo e cevada
Todos enchem a cara
Para o descanso ou a diversão
Não suportemos toda essa hipocrisia
Drogas são drogas
Chupe, beba, coma, durma, cheire, sonhe.

Assista T.V. e continue vivendo sua medíocre vida
Sem Deus, sem o demônio
Mas, continue vivendo e tomando sua cervejinha
Pois somos todos felizes
O carnaval vem aí
E mais uma vez é hora de usar, cheirar, meter, botar pra fuder
Estamos livres agora

Nem as mídias nos pegarão
Estamos livres, pois é carnaval
Beijemos todas as bocas
Degustemos todas as vaginas
Engolimos todos os pênis
E engasguemos

Com toda perversidade social
Chamemos todos de queridos
Idolatremos a todos e continuemos chamando todos de amor
Pois somos os amores de todos
Somos perdidos, somos errados
E não conseguiremos descobrir a nós mesmos
Por isso continuemos toda a hipocrisia

É carnaval
É carnaval
É carnaval

Perdoem-nos todos os nossos egos
Egocêntricos
Um furo nos umbigos
E as falsas amizades que não lembram de mim
Mas meus instintos carentes
Fazem-me lembrar delas
Perdidas, malditas
Almas que se esquecem e me fazem lembrar

Perdida, estou eu.
Que imploro por tudo
E escrevo minhas verdades e espero respostas
Não sei o porquê!
Talvez idiota
Sim, idiota
Porque não sei bem como sou
Já é passada a hora de lembrar de mim
Porque não me lembro como sou
Mas lembro de escrever recados
E esperar pelas respostas
De falsos e falsas
Aproveitem-se, o tempo está acabando

Afinal,

É carnaval
É carnaval
É carnaval

E todos voltarão a ser felizes
Inclusive Eu
Porque sempre vivi uma mentira
E nunca descobri
Ser legal, Ser bacana
Ser Social.
Sociável.

Nem as conheço, mas as chamo de queridas
Pois somos todos queridos pelo inferno
As conheço em um noite, e as chamo de queridos
Pois elas tocam, sei lá o quê!
Meu sexo, ou meu coração!
Mas tocam, e é isso que me interessa!
Samba, Rock, Metal, Alternativo.
Tocam!

E me sinto feliz assim
E quem será você para contradizer o que vivo
Nunca deixarão de ser
O que conheci em uma noite
Nem nunca deixarão ser meus amigos
Porque eles me conhecem melhor que você
Do que o esperma que me penetra

Do que todos os espermas que me penetraram
Então eu vou voar
Então eu com o fluxo
Nas noites, e nas cervejinhas que me comprazem
Nas noites que me sustentam
Nas idiotices que já fiz
Nas pessoas em que já acreditei

Somos apenas mais umas
Doses de pessoas
Que não sabem o que querem
Mas mesmo assim, somos nós mesmos
Com temores ou sem eles
Somos música
Somos poesia
Somos carne
Somos alma
Somos som

Somos apenas Eu e Você.
Somos amiguinhos
Há mais de dois segundos
Somos amigos
Somos amantes
Somos gozadores
Somos libertos
De todos os males
Somos livres

É carnaval
É carnaval
É carnaval

Os tambores soam nas ruas
E o casal trepa ao luar
E o outro casal transa na escuridão
E os preservativos são deixados nas sarjetas
E os espermas adentram as galerias de esgoto
E mais subumanos são criados
Dejetos depositados a beira dos rios
E crianças jogadas nas lixeiras

Sorriam, pois

É carnaval
É carnaval
É carnaval

E todos os meus amigos são mulheres
E eu os escuto
Com meu sentimento
E todos os meus amigos são homens
E eles choram e eu os escuto e ao final todos me comem
Como se todos os homens não quisessem comer
E que continuemos todos felizes
Tomando nossas cervejinhas

Enquanto alguns bebem águas putrefas
Com ratos, leishmaniose
Todos sorriem
Felizes, pois
É carnaval
É carnaval
É carnaval

Enquanto alguns morrem nas encostas
Outros continuam a beber suas cervejinhas
Felizes sobre tetos protegidos por sua hipocrisia matinal
E a água entra nos becos
E outros alguns bebem as águas
Da chuva o que resta, são idiotas felizes
Que chamam uns aos outros de amor
Com letras minúsculas, pois

Não merecem maiores esforços
São feitos por hipocrisia
O asfalto, os comentários
Os felizes do carnaval
E esta sempre será a arte de guardar um segredo
Falar pra quê se não querem escutar
Seguiremos no piloto automático
Mas tomando nossa cervejinha
Felizes e sorridentes

Pois as pessoas morrem e eu não estou nem ai
Quero mais é ser feliz, pois

É carnaval
É carnaval
É carnaval

Samba, rock, ideologias à parte, o que interessa é ser feliz.
Nos cemitérios, almas penam pelas mortes em acidentes
Trágicos filmes da vida real
Expostos corpos por todas as estradas
E continuamos felizes, pois
A mulata balança os seus quadris
A procura de uma vida melhor
E as prostitutas balançam seus braços
Em busca de uma vida melhor
Os trabalhadores constroem suas fantasias
E Penam sobre o calor
E produzem monstros
Sorriam

Ainda É carnaval
Ainda É carnaval
Ainda É carnaval

E todos são amores
E todos são apaixonados
E todos irão para o inferno
E todos desejam mais do que podem possuir
Todos querem um milhão ou milhões
Todos são avarentos
Todos jogam nas loterias
Todos jogam jogos de azar
Todos querem ficar ricos
Rápida e sem sentido é essa vida
E devemos aprender a destruir
E devemos aprender a desconstruir
Pois somos todos alto sustentáveis

Devemos matar e desmatar
Porque é desmatando que se aprende a matar
E o porta estandarte balança a flâmula
E o cantor solta as belas asneiras
E repete o que sempre foi dito inúmeras vezes
Por favor, sem palavras repetidas
Que preguiça
E todos chamam-se de amor
Vocês são demais

E os músicos tocam as cuícas
E as pessoas dançam, pois
Todos estão livres
Afinal é carnaval
Estamos livres e podemos fazer tudo
Podemos chamar nossos amigos de amor
Somos sociabilizados
Sinto uma tensão na cabeça
Pois sou sociabilizada
Sou uma pessoa querida
E quero continuar sorrindo

Pois,

É carnaval
É a época da canção iluminada
E as estradas escuras trazem os mortos
E as pessoas são infectadas
Doenças das mais variadas
Sambem e sorriam
Pois os garis estão sendo satirizados
Pela estrela de Davi

E eu continuo insistindo, naqueles que não olham por mim
Acho que perdi minha cabeça há muito
E por isso adoro os carros alegóricos
Adoro os trios elétricos
Adoro ser feliz falsamente
Adoro ser sociabilizado
Adoro ser domesticado
Adoro ser ideologizado
Adoro Samba Rock, ou somente Samba ou somente Rock
Pois, sou sociabilizado

É carnaval
É carnaval
É carnaval

O que me resta é a cervejinha com todos os falsos amigos que me restam e os quais eu imploro pelas respostas aos meus recados.


Marlon Nunes
27 de janeiro de 2010

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